Atualizado em 21/08/2025 – 17:08
Toda vez que eu saio do Espírito Santo eu volto um pouco mais capixaba do que antes. Em nenhum estado visitado eu nunca encontrei um PF bom como o da Lia da Rua 7, ou pelo menos que fizesse frente ao do Galetti. Arroz com feijão sem gosto existe aos montes, e tempero é uma coisa que a gente tem bastante.
O capixaba talvez seja porteiro (de porto e porta) por excelência, e receba tão bem o cominho e o coentro quanto o alho, passando por pimentões e um leite de coco jamais confessado. Mas pega também um molho de tomate, um manjericão, produz ovo pra caramba e não diz tudo.
Eu gosto do jeito que a gente tem, comunitário, de não dizer tudo mesmo que pareça que estamos dizendo. Eu achava que isso era parte da minha personalidade, mas percebo que somos todos assim. Não contamos a dimensão da beleza de nossas praias, não contamos a dimensão da gostosura de nossa culinária.
_ Aline, eu ouvi falar de um prato capixaba que tem um nome, mas não é moqueca…
_ Torta Capixaba.
_ Sim, torta capixaba!
Uma maravilha a torta capixaba, tradição exclusiva da Grande Vitória em suas páscoas. Que todo mundo que chega e conhece, come e gosta sente falta de não ser daqui. É um segredo, mas coletivo.
Também são segredos coletivos o socol, a palavra pocar, o efeito da panela de barro sobre as comidas, o histórico de igrejas antigas e a profusão de banana da terra jamais questionada, mas alocada em tudo.
E tem a beleza de nossos tambores (congo, jongo, ticumbi e tudo mais). A gente sabe, mas não fala. Porque falar demais é chato e todo mundo conhece todo mundo mesmo. Mas a gente se ama, e ama a mudez oportunista de nossa conduta, que só cumprimenta quem se quer na hora que quer, sem falsa simpatia e sem levar a distração para o coração.

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