Atualizado em 16/06/2025 – 17:52
Em Vitória, a política na Câmara Municipal vive uma encenação curiosa. Muitos vereadores que chegaram ao Legislativo com o discurso de oposição progressista hoje preferem atuar à sombra da neutralidade. Com raríssimas exceções, a verdadeira fiscalização da gestão de Lorenzo Pazolini não encontra força proporcional à expectativa do eleitorado que, em tese, votou para ver enfrentamento e não conformismo.
Karla Coser (PT)
Até aqui, Karla Coser (PT) tem sido a principal voz da oposição orgânica na Câmara. Com uma atuação combativa e presença constante nos debates centrais da cidade, seu mandato cumpre o papel de confrontar a gestão Pazolini com responsabilidade e argumentos sólidos. Porém, com sua licença-maternidade prevista para os próximos meses, Vitória deve enfrentar um vácuo ainda maior na resistência institucional, já que não há hoje um nome com a mesma densidade e preparo para assumir essa linha de frente na oposição.
Pedro Trés (PSB)
Eleito pelo partido do governador Renato Casagrande, era natural que Trés tivesse uma atuação firme em defesa de uma agenda progressista mais contundente. Contudo, desde o início de sua legislatura, adotou o discurso de “independência”, evitando qualquer enfrentamento direto ao Executivo e limitando seu mandato a pautas neutras como inovação e empreendedorismo. O que já foge, desde o início, do que se esperava nas urnas. Afinal, o PSB não apenas é adversário político do prefeito, como sustenta, em nível estadual, bandeiras progressistas que deveriam encontrar eco na capital, ainda mais considerando que, em 2026, o partido poderá ser peça chave tanto para o governador quanto para seu próprio projeto de fortalecimento.
Em nenhuma das entrevistas públicas até o momento, Pedro Trés assumiu um compromisso direto com a cobrança sistemática da gestão Pazolini. Pelo contrário, seu nome pouco aparece em momentos de embate nas sessões da Câmara. Essa neutralidade estratégica, porém, tem um preço político alto: decepciona o eleitorado que depositou o voto esperando um representante vigilante, coerente com o DNA do partido ao qual pertence.
Nos bastidores, já há quem aponte sinais de desconforto dentro do próprio PSB. Fontes próximas à cúpula partidária indicam uma insatisfação crescente com o mandato morno e com a ausência de posicionamentos mais firmes frente ao governo Pazolini. A expectativa de ver o PSB protagonizando o debate e fiscalizando o Executivo virou, na prática, um silêncio estratégico que não condiz com o tamanho político que o partido tem no Espírito Santo.
Bruno Malias (PSB): a urgência da reinvenção
Outro nome do PSB que ilustra bem a dificuldade de atuação é o de Bruno Malias. Ainda que tenha ensaiado algumas críticas pontuais, sua postura é de um mandato transitório entre base e oposição, sem embates firmes com o Executivo, o que, para muitos, já soa como a velha posição de centrão ou o confortável “em cima do muro”.
A perda da eleição da associação de moradores em Jardim Camburi, seu reduto eleitoral estratégico, acendeu o alerta. Sem a força comunitária consolidada, Malias se vê agora diante de um desafio: precisa urgentemente se reinventar politicamente para manter sua relevância no bairro e atender as demandas internas do PSB, que busca quadros mais competitivos em Vitória para 2026. Enquanto essa reinvenção não acontece, mantém uma atuação discreta na Câmara, distante dos enfrentamentos que o cenário exige.
Aloísio Varejão (PSB): a lealdade implícita ao Executivo
Ainda dentro do PSB, Aloísio Varejão adota o que muitos classificam como “independência colaborativa”, mas que, na prática, o coloca constantemente ao lado da base de apoio ao prefeito. Mesmo sendo de um partido que não tem interlocução fluida com a prefeitura, Varejão atua de forma consistente como aliado, participando de votações estratégicas e mantendo-se afastado de qualquer tensão pública com o Executivo.
Essa escolha por uma neutralidade amigável não apenas distancia o vereador da função fiscalizatória que deveria exercer, como também cria um ambiente confortável para Pazolini governar sem sobressaltos.
Luiz Paulo Amorim (PV): da federação para a base governista
Integrante da federação PT-PCdoB-PV, Amorim foi eleito em uma coligação de oposição, mas na prática tornou-se um dos apoiadores mais fiéis da gestão municipal. Publicamente já declarou alinhamento com o prefeito, participa de agendas institucionais e não exerce, nem de longe, o papel fiscalizador que sua base eleitoral e a federação que o elegeu esperavam.
Professor Jocelino (PT): a oposição que evita o embate direto
Eis o exemplo mais escancarado da contradição. Sendo do PT, partido do qual Karla Coser é um dos nomes de maior relevância, Jocelino deveria seguir a caneta da oposição. Mas, ao invés disso, tem marcado presença em agendas oficiais do prefeito, recebido elogios públicos e votado com o Executivo. É veterano do discurso de oposição, mas opta pelo silêncio.
Jocelino formalmente se apresenta na oposição, mas mantém uma relação de boa vizinhança com a prefeitura. Participou de agendas públicas ao lado do prefeito, já foi elogiado publicamente por Pazolini e, em votações estratégicas, tem acompanhado pautas do Executivo. A retórica oposicionista não tem sido acompanhada de pressão efetiva, revelando um distanciamento entre o discurso de campanha e a prática no mandato.
Ana Paula Rocha (PSOL): presença seletiva e com limitações
Embora com alguma projeção e presença, Ana Paula mantém uma atuação restrita às pautas identitárias e sociais. Nas demais fiscalizações e embates administrativos, a neutralidade predomina, o que salta aos olhos, sobretudo quando se compara sua atuação com a da deputada estadual Camila Valadão, do mesmo partido. Camila permanece como uma voz firme e de enfrentamento real quando necessário, enquanto Ana Paula ainda não ocupa, dentro da Câmara, o espaço de oposição combativa que o PSOL historicamente representa.
O saldo da encenação
O saldo é incômodo e, para o eleitor progressista, até frustrante. Em uma cidade onde o Executivo mantém alto capital político, a Câmara de Vitória oferece pouca resistência real. Boa parte dos vereadores que deveriam exercer o papel de freio e contrapeso preferem uma neutralidade conveniente, que preserva relações políticas, mas trai o voto de confiança que receberam nas urnas.
No final, sobra o cenário: uma oposição que não enfrenta, aliados disfarçados de independentes e um Executivo que governa sob o silêncio confortável de quem deveria fiscalizá-lo. Resta saber como essas peças chaves poderão contribuir para as eleições de 2026, tendo em vista que atualmente seu silêncio vem tão somente para um ganho: crescimento do pré-candidato para governador já declarado Lorenzo Pazolini.
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião editorial do VIXFeed.

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