Atualizado em 19/12/2025 – 16:51
Esquisitíssima. É assim que sempre me senti quando o assunto era sexo perante o mundo. O motivo? Enquanto outros sempre sentiram uma facilidade absurda em se relacionar fisicamente sem qualquer conexão, o meu corpo nunca sentiu tesão em alguém se, antes, a minha mente não fosse convidada. Para a minha sorte, já até inventaram um nome moderníssimo para isso: sapiossexualidade, o que, nada mais é, do que a boa e velha afinidade. Aquela mania de querer despir a alma do outro antes de jogar as suas roupas no chão.
E não me entenda mal, por favor. Não sou cega e muito menos imune a um sorriso bonito ou a um bíceps definido; sou uma criatura visual, convenhamos, e você, caro leitor, sabe bem do que estou falando. Mas, confesso: sexo por sexo nunca foi a minha praia. Em todas as vezes em que tentei me entregar exclusivamente ao carnal, na hora H batia um vazio estranho, sabe? Sentia que faltava um borogodó, uma lubrificação que não vinha das áreas íntimas, mas das entranhas do crânio.
É que, para mim, o momento a dois começa bem antes do toque físico. Ele nasce do arrepio provocado por meia dúzia de palavras nada eróticas, enviadas por mensagem de texto numa terça-feira qualquer, mas capazes de disparar meus pensamentos mais perversos em uma fração de segundos. Isso é fazer amor sem sequer tirar o meu vestido
Antes de bagunçar o meu cabelo, tem que saber bagunçar o meu mental. Tem que ser sagaz, ter repertório para falar sobre política, astrologia e o preço do tomate com a mesma intensidade. Tem que ser interessante e ao mesmo tempo interessado (é raridade, eu sei!). Em tempos tão voláteis, quem usa o cérebro como preliminar já está com meio caminho andado.
Às vezes, eu tenho a sorte de esbarrar com esses seres humanos, e, nesses momentos, percebo que toda a minha “chatice” faz sentido. Eles sempre me provam que ao escolher a trajetória menos óbvia, que é a de ficar nu diante da própria vulnerabilidade, o corpo comparece com uma vontade absurda.
Podem me chamar de complicada ou exigente demais. Eu aceito. O que eu não aceito mesmo é nada morno, nem na vida, nem na cama. Porque, por mais bonito que alguém seja, o maior afrodisíaco ainda sempre será um cérebro bem afiado, e, no ponto de vista desta escritora, não há nada mais sexy do que uma mente que sabe exatamente onde me tocar sem nem precisar encostar a mão.

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