Atualizado em 01/02/2025 – 13:02
A professora capixaba Joziane Avance Fiorese, de 38 anos, que teve uma embolia pulmonar ao chegar na Turquia para passar férias em dezembro de 2024, conseguiu retornar ao Espírito Santo nesta semana. Depois de passar por exames e avaliações médicas em Istambul, ela foi autorizada a viajar, mas antes disso precisou passar um mês no país. Agora, já no Brasil, as investigações de saúde continuam.
“Fiz exames no dia 27 de dezembro e meu coração e pulmão estavam normais. No dia 29 eu embarquei para o Brasil. Sozinha e com o coração na mão, uma vez que o medo de viajar novamente, em um voo longo, estava à minha espreita. Com meu laudo médico, eu consegui um assento no corredor, e assim pude me movimentar bastante durante o voo”, explicou.
Joziane também contou que usou meias de compressão durante o voo, ficou movimentando as pernas e também fez caminhadas pela aeronave. “Desse jeito, cheguei bem a São Paulo, mas assim que pousamos e comecei a caminhar pelo corredor do avião, o medo causado pelo trauma foi inevitável, mas deu tudo certo”, completou.
A professora também contou que manteve atualizado o médico que a acompanhou sobre todo o percurso da volta. Ao pousar em Vitória, veio também a emoção do reencontro com a família.
“Quando cheguei ao aeroporto de Vitória, meus pais estavam me esperando com muita alegria. Foi emocionante, porque apesar de saberem que eu já estava bem, nada se compara ao rever pessoalmente alguém que esteve em perigo e longe de casa por tanto tempo”, disse.
Agora, no Brasil, Joziane vai precisar continuar o tratamento por seis meses e investigar as possíveis causas da trombose.
Relembre o caso
Passar o Réveillon na Turquia, incluindo passeios por Istambul, Capadócia, Pamukale e Éfesus. Esse era o roteiro de férias de Joziane, mas tudo mudou quando ela chegou ao país. Assim que o voo pousou no destino final, no dia 27 de dezembro de 2024, a professora de Língua Inglesa passou mal e, horas depois, se viu internada em um hospital com um quadro grave de embolia pulmonar aguda. A viagem, que era para durar nove dias, se estendeu por 34 porque ela não tinha autorização para viajar por conta dos riscos.
Joziane, que mora em Venda Nova do Imigrante, na região Serrana do Espírito Santo, viajou para a Turquia com uma amiga. Ela contou que, assim que o avião pousou e que ela se levantou para pegar a mala de mão, sentiu um desconforto na perna direita.
“Achei que fosse por causa da posição em que estava sentada. Assim que comecei a andar pelo corredor do avião para sair, eu senti um dor e uma pressão estranha no peito, e quando eu vi, já estava no chão. Acordei rodeada por comissários de bordo, e aos poucos fui voltando. No entanto, não consegui ficar de pé e também tinha uma certa dificuldade para respirar. Chamaram os paramédicos do aeroporto e, depois de eu ficar uns minutos no oxigênio, me retiraram da aeronave e me aconselharam a buscar um médico. Como eu já estava me sentindo melhor e não tinha ideia do que realmente estava acontecendo, não pensei em buscar ajuda, só queria pegar as bagagens e ir para o hotel. Mas tive mais outros dois desmaios e a dificuldade de respirar foi piorando ainda mais. Chamaram uma ambulância e fui colocada no oxigênio. Neste momento, eu já estava ‘apagando’, não conseguia me comunicar direito e estava confusa mentalmente”, lembrou Joziane.
A professora capixaba foi levada para o Hospital Cam ve Sakura City, em Istambul. Após passar por alguns exames, foi diagnosticado um caso de embolia pulmonar aguda e corria risco de morte.
“Fiquei internada oito dias, sendo quatro deles em repouso absoluto. Tive alta no dia 03 de janeiro, porém, sem autorização para voltar para o Brasil em menos de um mês. Minha estadia aqui seria até o dia 05 de janeiro, mas precisei estender até poder voltar. Minha amiga estendeu uma semana também para ficar comigo, mas cheguei a passar alguns dias sozinha e correu tudo bem. Agora estou na companhia de uma prima do meu pai, que mora em Londres e veio para cá ficar comigo”, contou.
Durante todo esse tempo, ela tomou uma injeção anticoagulante duas vezes ao dia, por recomendação médica.
O que pode ter causado o problema
A embolia pulmonar ocorre quando um coágulo de sangue localizado em uma das veias das pernas ou da pelve se solta e bloqueia um vaso do pulmão (artéria). O bloqueio impede a passagem de sangue e causa a morte progressiva da parte afetada, resultando em dor ao respirar e intensa falta de ar. Além disso, também é chamado de tromboembolismo pulmonar (TEP) ou trombose pulmonar.
É um quadro grave. Devido à dificuldade em respirar e às lesões no pulmão, a quantidade de oxigênio no sangue diminui e os órgãos de todo o corpo podem ser afetados. Especialmente quando existem vários coágulos, ou quando o embolismo dura muito tempo, causando a embolia maciça ou infarto pulmonar.
Joziane contou que, ao divulgar nas redes sociais pelo que estava passando, muitas pessoas perguntaram se ela tinha algum problema de saúde que justificasse a embolia pulmonar. “Eu nunca tive nada. Sempre tive boa alimentação, sono regular e fazia atividade física. Um fator que pode ter contribuído para este acontecimento foi o uso do anticoncepcional durante anos”, definiu.
O VIXFeed conversou com a médica pneumologista Cilea Aparecida Victoria Martins, que explicou que existem alguma fatores que podem aumentar as chances de se ter uma embolia pulmonar e também há fatores genéticos.
“O anticoncepcional tem uma tendência a aumentar a nossa coagulação e algumas mulheres já têm algumas doenças que podem favorecer a essa formação. Existem aquelas pessoas que já nascem com tendência a ter esse sangue um pouco mais mais espesso. Seriam os pacientes com uma doença chamada trombofilia, onde existe uma alteração de um dos fatores de coagulação na região da parte hepática e esse fator, então, como ele se torna alterado, favorece a formação desses trombos, que são esses pedaços de sangue talhados”, explicou.
Existem outras doenças que também podem levar a esse tipo de formação de trombos, principalmente as autoimunes em mulheres jovens.
“Por exemplo, lúpus, artrite reumatoide, espondilite anquilosante, que são doenças autoimune; doenças hematológicas, esclerodermia, doenças reumáticas podem favorecer a formação desses trombos e, dependendo da situação que a pessoa se encontra, eles podem se desenvolver em maior número, deslocar e parar, então, dentro da parte pulmonar”, falou a médica.
Pessoas diabéticas, hipertensas e com problemas renais também podem ter uma pré-disposição para o problema, segundo a médica.
Cuidados em voos longos
A pneumologista explicou que casos de embolia pulmonar podem se manifestar após voos longos porque é quando as pessoas ficam muito tempo paradas, muitas vezes na mesma posição.
“Você tem um acúmulo de sangue, principalmente nas pernas. O nosso retorno venoso ocorre, justamente, no horário da noite. E o nosso sangue nosso fica, praticamente, quase todo nas pernas. À noite, ele volta até a região do coração para ser, novamente, oxigenado e depois retornar, de novo, para as pernas. Daí a pessoa fica muito tempo parado, sem usar uma meia elástica, sem fazer movimento. Se a pessoa já tem uma predisposição, como falei, o sangue fica parado, ‘endurece’, e aí solta aquele tromboque vai parar, exatamente, no pulmão”, contou.
A recomendação da pneumologista é que as pessoas que têm alguma dessas doenças sempre procurem seus médicos antes de viajar.
Além disso, para aqueles que não sabem se têm alguma pré-disposição, a pneumologista listou alguns cuidados que é possível tomar para fazer viagens longas de avião de forma mais segura:
- Usar meias de compressão;
- Não ficar o tempo todo sentado no assento e na mesma posição. É importante levantar e caminhar um pouco de tempos em tempos;
- Mesmo sentado no avião, fazer movimentos de contração das pernas, movimentando as panturrilhas. Fazer também movimentos como se estivesse pedalando;
- Hidratar-se bastante durante o voo;
- Para além das viagens, fazer exercícios físicos com frequência, não deixando de exercitar a panturrilha. Assim, já estará se preparando para essas situações.
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