Atualizado em 10/09/2025 – 12:57
O Palácio Anchieta recebeu nesta manhã o seminário que encerra o circuito nacional de apresentações da pesquisa Cultura nas Capitais, o maior levantamento quantitativo já feito sobre hábitos culturais no Brasil. O estudo ouviu 19.500 pessoas, presencialmente, entre fevereiro e maio de 2024, nas 27 capitais, e trouxe um recorte específico sobre quem consome cinema, teatro, museus e festas populares em Vitória.
A programação começou às 8h45 com a abertura oficial e duas mesas de debate. A primeira, “Acesso à cultura nas capitais: desigualdade e diversidade”, reuniu Fabricio Noronha, secretário de Cultura do ES, Luciana Gondim, diretora do Instituto Cultural Vale, e Nieve Matos, coordenadora do Escritório do MinC no ES, sob mediação de João Leiva Filho, pesquisador responsável pelo estudo. A segunda mesa, “Hábitos culturais em Vitória: música, espaços e eventos”, contou com Arthur Fiel, Erica Vilhena, Léo Alves e Stael Magesck.
Entre os principais achados, a escolaridade aparece como variável mais influente do que a renda. O acesso às atividades culturais cai entre pessoas com apenas o ensino fundamental e sobe de forma consistente a partir do ensino médio e no superior. “Os números escancaram o papel da educação para formar público e reduzir desigualdades”, resumiu João Leiva.
A faixa etária também se mostrou determinante. Jovens de 16 a 24 anos aparecem muito acima da média em praticamente todas as atividades; a partir dos 35 anos, os índices recuam, com queda acentuada em cinema e biblioteca entre 45 e 59 anos. No público 60+, as festas populares resistem como principal porta de entrada e permanência no circuito cultural.
Mesmo diante dessas curvas por idade, Vitória “resiste” acima da média nacional em diversos indicadores, segundo a leitura apresentada durante o seminário. Ainda assim, território e mobilidade seguem como barreiras estruturais: embora a amostra local não permita recortes robustos por região, repete-se a tendência vista em outras capitais, onde áreas com melhor transporte e infraestrutura cultural concentram maior acesso.
Repercussões e compromissos
Fabricio Noronha destacou o efeito de políticas continuadas e integração entre linguagens e territórios. Citou a reestruturação da Orquestra Sinfônica do ES e a expansão do programa Orquestra nas Escolas, que saltou de 6 para 30 escolas por ano. “Quando estruturamos, investimos e comunicamos bem, viram casos replicáveis”, disse. Ele adiantou que o Cais das Artes deve operar como plataforma para potencializar produção e festivais capixabas, com um ciclo de conversas em outubro para desenhar a ocupação do equipamento.
Luciana Gondim apontou caminhos para enfrentar a queda de participação entre adultos e idosos. “Programação diurna, preços e acessibilidade importam. Reconhecimento de trajetórias e conteúdo que gere identificação também”, afirmou, defendendo a redistribuição de projetos para além das áreas centrais.
Nieve Matos ressaltou o papel das novas políticas federais e da intersetorialidade. “Lei Paulo Gustavo e a Política Nacional Aldir Blanc ampliaram recursos e capilaridade. O diálogo com educação, assistência social, transporte e turismo precisa ser regra para evitar sobreposições e alcançar quem mais precisa.”
Do público, surgiram alertas práticos: horários muito tardios, ausência de informação centralizada sobre agendas, escadas e rampas íngremes em centros de convivência, distância de pontos de ônibus e falta de opções diurnas nos bairros aparecem como barreiras especialmente para 60+.
Por que isso importa
O encontro no Palácio Anchieta mostrou que o debate sobre cultura vai além da oferta de eventos: ele escancara como educação, mobilidade e políticas de acesso moldam quem pode ou não ocupar os espaços culturais da cidade. Vitória aparece com índices que resistem à média nacional, mas a pesquisa deixa claro que ainda há muito a ser feito para manter jovens engajados, reverter a queda entre adultos e garantir que idosos não fiquem de fora. A cultura, quando pensada como política pública, torna-se não apenas entretenimento, mas ferramenta de equidade e pertencimento. Um desafio urgente e uma oportunidade concreta para a capital.

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