É Natal na advocacia capixaba. Tempo de balanço, retrospectiva… e de encarar a realidade sem marketing, sem slogan bonito, sem discurso pronto. Porque promessa de campanha tem CPF. E responsabilidade institucional também.
A atual gestão da OAB-ES chegou falando em renovação, compromisso com os jovens advogados, transparência, fortalecimento das prerrogativas e modernização da instituição. Na prática, o que a advocacia recebeu foi bem diferente.
A começar pelo que mais impacta diretamente o bolso e a permanência de muita gente na profissão: o desconto prometido na anuidade simplesmente não aconteceu. A narrativa de “cuidar dos jovens advogados” virou um alívio inexistente. A promessa de a partir de 70% de desconto na anuidade para os jovens advogados ficou na propaganda. Na vida real, o que prevaleceu foi anuidade alta e manutenção de taxas — exatamente o modelo que diziam querer romper.
E, já que o discurso era que o jovem advogado teria prioridade, vale perguntar sem rodeio: onde estão as entregas concretas? Prometeram protagonismo, conexão, fortalecimento da base iniciante da advocacia. Mas, objetivamente:
- Onde estão os eventos estruturados e contínuos?
- Onde está a rede de suporte real?
- Os jovens advogados estão mais unidos ou mais perdidos?
Discurso emotivo na entrega da carteira não muda a realidade de quem sai para enfrentar um mercado competitivo, caro e desigual. O que muda a vida do jovem advogado não é aplauso de cerimônia. É oportunidade real, suporte contínuo, política pública institucional dentro da OAB.
Transparência? Essa ficou no discurso também. O tão falado Portal da Transparência não foi modernizado, não foi substituído, não foi atualizado como deveria. Em 2025, com dinheiro público de contribuição obrigatória, é simplesmente inaceitável a advocacia não ter dados claros, acessíveis e atualizados sobre a gestão da sua própria instituição.
E onde estão as grandes estruturas anunciadas como solução para velhos problemas da classe?
A Procuradoria de Prerrogativas que deveria ser referência, firme, ativa, combativa, segue muito aquém do que foi prometido. O setor de compliance, que simbolizaria uma gestão mais responsável e técnica, virou silêncio. A tão anunciada atualização da Tabela de Honorários não avançou como deveria — e isso impacta diretamente a dignidade profissional. E aquele Conselho Permanente da Advocacia, vendido como símbolo de diálogo e escuta contínua, nem saiu do papel.
Antes do ano virar, há ainda outra pauta que precisa ser encarada com seriedade: a comissão eleitoral que está para ser montada. Já é assunto nos corredores da advocacia a expectativa — ou o medo — de que essa estrutura não se transforme apenas em palco político conveniente à atual gestão, como já ficou evidente desde as movimentações de 2024. A advocacia espera algo maior do que estratégia eleitoral disfarçada de institucionalidade: espera respeito, ambiente democrático de verdade e representatividade real para o bem comum, não um teatro para legitimar decisões previamente definidas.
No discurso, a OAB seria mais moderna, mais próxima, mais eficiente, mais resolutiva. Na prática, muito do que foi apresentado como compromisso virou inércia institucional. Não é oposição falando. Não é ruído político. É o resultado concreto, ou a falta dele.
Fim de ano é símbolo de recomeço, mas também de cobrança. Se a OAB-ES quer respeito, precisa entregar o básico: cumprir o que promete. Porque advocacia não vive de boa vontade, de reunião fotogênica ou de justificativa bem escrita. Vive de resultado.
Então é Natal na OAB-ES.
E a pergunta que ecoa é simples: o que a gestão fez com a confiança que recebeu?

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