Atualizado em 18/12/2025 – 15:35
Eu e minha amiga Carla Guerson montamos uma Playlist com músicas de fofoca. O critério é: música que tem fofoca por trás, música que parece uma fofoca, música que a gente sabe que foi feita a partir de uma fofoca.
As fofocas ficcionais escolhidas foram “O pinto” do meu pai que fugiu com a galinha da vizinha e fez um pega pra capar no galinheiro (música do Raça Pura) e Domingo no Parque, de Gilberto Gil.
Na música do Gil, o rei da brincadeira e o rei da confusão disputavam a Juliana, que saiu com o rei da confusão pra tomar um sorvete e teve o namorado (João) morto. O João não era o rei da confusão? Mas foi o rei da brincadeira, e José, que matou o amigo com uma faca justo no dia em que ele resolveu não brigar. A leitora há de convir, trata-se de uma grande fofoca.
Na categoria fofocas reais, temos a clássica música “resposta”, que Nando Reis fez pra Marisa Monte depois de terminar com ela. E as más línguas dizem (sem comprovar) que ela fez “depois” pra ele e que até hoje ela não respondeu os versos dele tão dela que ainda esperam resposta.
Agora, a categoria fofoca lésbica entrega mais. São fofocas confessas. Ana Carolina e Preta Gil confirmam que “Sinais de Fogo” é a história do amor platônico da Preta pela Ana, que a Ana mesmo compôs. Elas iam se procurando e se desencontravam.
Já Escândalo, eternizada na voz da Ângela Rorô, foi feita pelo Caetano Veloso para ela, com a história dela. Porque ela tinha feito alguns escândalos, principalmente com a ex-namorada Zizi Possi. Essa fofoca é tão boa que continua repercutindo muitos anos depois.
A Ângela Rorô foi taxada de lésbica violenta, e na música ela confessa “marquei demais, aprontei demais”, mas também assume a própria sensibilidade “mas agora faz um frio aqui!” e “o grande escândalo sou eu: aqui, só!” (a pontuação é minha).
Não vão caber todas as músicas no programa Marca Texto, que eu e Carla apresentamos. Mas tem um paralelo que corre muito solto na minha cabeça, uma grande fofoca em dueto e um grande clássico da música humorística nacional. A rosa, de Chico Buarque é o dueto, Boys don’t cry, do Mamonas Assassinas, o clássico humorístico.
Vejam se não combina:
Chico diz: A santa às vezes me chama Alberto/ Alberto/ Decerto sonhou com alguma novela. (…) A lebre, como é que ela é tão fogosa/ A Rosa/ A Rosa jurou seu amor eterno/ Meu terno ficou na tinturaria/ Um dia me trouxe uma roupa justa/ Me gusta, me gusta/ Cismou de dançar um tango.
Mamonas diz: E na cama quando inflama/ Por outro nome me chama/ Mas tem fácil explicação/ O meu nome é Dejair/ Facinho de confundir/ Com João do Caminhão.
A grande diferença em fofoca é que na canção do Chico são dois cornos que não sabem que são cornos. A mulher tem vida dupla e passa ilesa, enquanto na canção dos Mamonas assassinas o corno aceita ser corno e passa o recibo:
“Você é muito fogosa/ Tão bonita e carinhosa/ Do jeito que eu sempre quis/ Minha coisinha gostosa/ Dá aos pobres, é bondosa (…) Nós fomos feitos um pro outro
Ela é uma vaca eu sou um touro.”
Os cornos do Chico Buarque estimulam ainda a fofoca contemporânea. A rosa visita a família em Sampa e volta descascada. A rosa some com o rango da geladeira de um e o outro elogia o molho. E um dos eu-líricos ainda compara com Penélope, célebre esposa de Ulisses (o da Odisseia) que ficou fiel por vinte anos enquanto o marido passava por Odisseias sem chegar em casa Ítaca da Guerra de Troia.
Aliás, a Guerra de Troia já é uma fofoca Homérica.

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