Atualizado em 21/11/2025 – 17:42
E quem dera fosse na conotação trazida por Rita Lee, em que o desejo sexual é o ponto principal da questão. A telepatia mencionada na música é mística e envolve tesão. A deste tempo é olhar para o teto às três da manhã, com o celular na mão, tentando decifrar por que a pessoa com quem você conversa há semanas enviou o emoji de “joinha” em vez do “coração”. Amar nos tempos do like tem exigido rapidez psíquica. É preciso ler o outro: seus desejos, suas manias, suas birras. Se algo me desagradou por aqui, você que arranje um jeito de desatar os nós daí. Não rasgarei o verbo, não darei sinal de qualquer anormalidade e, se em 24 horas você, pobre mortal sem diploma de médium, não souber o motivo da minha estranheza, o caminho é um só: o tão temido ghosting.
Obrigada, próximo. A questão é simples: ninguém quer ser vulnerável. O medo de parecer intenso ou, pior ainda, disponível é paralisante. Por isso fazemos esse teatro bizarro de sentir uma imensidão, mas falar o mínimo possível, isso quando conseguimos falar. Parece até uma competição em que a derrota está reservada para aqueles cuja humanidade é a maior fraqueza. Outro dia ouvi de alguém: “você é tão madura emocionalmente”. Sim, poderia ter sido um grande elogio, se não tivesse vindo porque, diferente da grande maioria, fiz o básico: enfrentei o meu ego e soube verbalizar as minhas necessidades.
Chocante, eu sei. Depois de alguns tropeços, um divórcio e uma vontade enorme de me relacionar prioritariamente para ser feliz, sem depositar todas as minhas expectativas exacerbadas no outro, só me restou a alternativa mais óbvia dentro das relações: aprender a me comunicar. Dizer aquilo que não me agrada e saber se o outro está disposto a atender. Mas esse não deveria ser o mínimo? Acho que o problema é exatamente esse. A nossa régua sobre o mínimo tem diminuído drasticamente. Demonstração de interesse virou like nas fotos mais antigas do perfil.
Um elogio, que leva de cinco a dez segundos para ser digitado, virou reação de “foguinho” nos stories. E, com um pouco de sorte, em vez de ganharmos um espaço na vida da pessoa, acabamos ganhando uma vaga no Close Friends dela.
O que nos resta, no meio de toda essa loucura, é pedir desculpas para Rita, onde quer que ela esteja. Deve ser horrível saber que fazer amor por telepatia tornou-se pretexto para tudo, menos para nos devorarmos emocionalmente e fisicamente.

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