Atualizado em 07/07/2025 – 12:33
A tão divulgada obra de requalificação do Canal de Camburi, se realmente atingir os objetivos que a atual gestão de Vitória tem alardeado, poderá entrar para a lista de boas obras de infraestrutura e de fomento ao turismo que devem, sim, estar entre as prioridades de uma administração pública em capitais como a nossa.
É necessário que a obra cumpra seu planejamento e modifique o cenário da ilha, fomentando o turismo e as atividades comerciais, gerando empregos, melhorando a qualidade de vida do cidadão e se tornando mais uma opção de lazer para os moradores.
Para quem acompanha a história da cidade de Vitória, vale lembrar que o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas, talvez o gestor que mais transformou os conceitos urbanos da capital após a redemocratização, chegou a pensar um projeto para o mesmo local. Por circunstâncias que renderiam outro texto, a proposta não foi levada adiante.
Evidenciando a importância de uma obra pública bem feita, bem planejada, dentro do orçamento, debatida com a população, com probidade e foco em resultados concretos, chegamos à pergunta que gostaríamos de colocar em debate: Vale a pena realizar uma obra desse porte enquanto os equipamentos públicos ao redor seguem sem a mesma atenção da administração?
Não seria melhor, primeiro, requalificar os aparelhos existentes para, depois, investir em uma nova intervenção? Ou, no cenário ideal, realizar todos os trabalhos simultaneamente?
Segundo a atual gestão, estamos falando de um investimento superior a 200 milhões de reais na requalificação do Canal de Camburi.
Enquanto isso, as pontes de Camburi e Ayrton Senna, ambas localizadas na própria região da obra, estão completamente defasadas. As Praças dos Namorados e dos Desejos, a poucos metros dali, também necessitam urgentemente de requalificação.
Por que a atual gestão optou por uma nova obra em vez de resolver problemas evidentes nesses importantes espaços públicos da cidade, localizados no mesmo perímetro? Os mais de 200 milhões de reais seriam suficientes para transformar completamente esse cenário defasado.
Seria excelente para os cidadãos ver a região inteira requalificada, incluindo as Praças dos Namorados e dos Desejos, além das pontes de Camburi e Ayrton Senna. Mas, se não cabe tudo no orçamento, não seria mais sensato priorizar o que já existe e é amplamente utilizado pela população, em vez de investir em algo novo enquanto o antigo segue esquecido?
A requalificação da Curva da Jurema gerou a expectativa de que algo semelhante fosse feito nas praças. Mas, até agora, as melhorias se concentraram apenas no trecho lateral ao Shopping Vitória e aos novos prédios que circundam o empreendimento comercial.
Imaginem as praças dos Namorados e dos Desejos requalificadas no mesmo padrão da Curva da Jurema, com os mais de 200 milhões anunciados como custo da obra do Canal de Camburi.
As praças são equipamentos públicos aprovados pela população, frequentados diariamente, com história e espaço consolidado no coração dos moradores.
A ponte de Camburi, no sentido Praia do Canto para Jardim da Penha, apresenta sinais de ferrugem nas proteções, placas da ciclovia deterioradas e buracos. Só há ciclovia nesse sentido. Uma ponte capenga. No sentido contrário, Jardim da Penha para Praia do Canto, o piso está em condição um pouco melhor, mas é praticamente impossível que um ciclista e um pedestre transitem juntos com segurança, mesmo sendo uma das pontes mais importantes da capital. Aliás, como está a mobilidade urbana em Vitória?
A ponte Ayrton Senna não possui ciclovia em nenhum dos dois sentidos, o que é impensável nos dias de hoje. Suas entradas são extremamente estreitas. No sentido Praia do Canto para Jardim da Penha, o vão central está em bom estado, mas sua longa e estreita subida impede o tráfego seguro de ciclistas e pedestres lado a lado. No sentido contrário, o piso está em péssimo estado, com um verdadeiro festival de remendos, e a descida igualmente estreita e longa representa um risco inadmissível em uma via de tamanha importância.
As praças, por sua vez, estão com calçadões antigos, desnivelados, com buracos e riscos de lesão. Não há ciclovia na Praça dos Namorados. Já a ciclovia da Praça dos Desejos é mal conectada, desnivelada e cheia de trechos esburacados.
A Ciclovia da Vida, na Terceira Ponte, deu nova dinâmica à mobilidade e melhorou a vida de milhares de pessoas. Talvez algo parecido pudesse ter sido pensado para as pontes de Camburi e Ayrton Senna. O estranho é ver pontes dessa relevância sem ciclovias, deterioradas, e ainda assim fora das prioridades.
Toda administração faz escolhas. E isso é legítimo. Faz parte da gestão pública. Neste momento, a atual gestão escolheu realizar uma nova obra em vez de requalificar as pontes e praças. Tudo bem. São escolhas.
Torcemos para que as Praças dos Namorados e dos Desejos, assim como as pontes de Camburi e Ayrton Senna, recebam urgentemente a atenção e os investimentos que merecem, e que possam usufruir da mesma dedicação que está sendo dada à obra do Canal de Camburi.
Entre as diversas impressões que ficam, uma delas é a do chamado “cobertor curto”. Uma obra só está sendo feita porque outras foram deixadas de lado. Ou, talvez, sejam apenas diferentes escolhas de prioridade.

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