Atualizado em 31/07/2025 – 17:18
O vídeo rodou o país: em Natal, um homem agride a namorada com mais de 60 socos dentro de um elevador. Ela não reage. Ele a massacra. A justificativa dele? “Crise de ciúmes.”
A internet reage. A mídia comenta. O caso vira mais um na longa lista de agressões a mulheres que viralizam. E a política? Silencia. De novo.
Não adianta dizer que o Brasil tem leis. Tem, sim. A Lei Maria da Penha é uma das mais avançadas do mundo. Mas no papel. Porque fora dele, o Estado segue chegando atrasado. Quando não chega. A rede de apoio é frágil, mal equipada, burocrática. A porta de entrada pra pedir ajuda, muitas vezes, é a mesma que tranca a mulher no ciclo da violência: falta de acolhimento, julgamento moral e a velha desculpa de que “não tem orçamento.”
E aí, no ano eleitoral, vem o discurso fácil: “Vamos proteger nossas mulheres.” Mas proteger como, se boa parte dos municípios nem tem um centro de referência funcionando? Se as campanhas educativas são cosméticas? Se os fundos de enfrentamento à violência vivem contingenciados?
O ciúme, nesse contexto, não é um surto. É um sintoma. E o agressor não é um caso isolado. Ele é produto de uma cultura que infantiliza o homem e responsabiliza a mulher. Uma cultura que ainda trata violência doméstica como “problema de casal.” Que acha normal um homem mandar na roupa da parceira, vigiar stories, cortar amizades. Que romantiza posse e chama de amor.
É preciso dizer: o ciúme que controla, vigia, cala e bate não nasce do amor. Nasce da impunidade. E essa impunidade também é construída na política.
Porque toda vez que um governo deixa de investir em atendimento, em educação, em formação, ele está escolhendo manter essa estrutura de poder. Está dizendo que o sofrimento da mulher não é prioridade. Está, sim, sendo cúmplice.
E pior: quando essa mesma estrutura ridiculariza mulheres na política e empurra lideranças femininas pra escanteio, ela amplia ainda mais o buraco. Porque mulher que apanha não denuncia. Mulher que denuncia não é ouvida. Mulher que entra pra política é desmoralizada. A violência se repete em vários níveis, e todos se alimentam.
Nas próximas eleições, não basta escolher quem fala que a segurança pública é prioridade. É preciso perguntar: quem tá disposto a enfrentar a estrutura que naturaliza a violência antes do primeiro tapa? Quem defende políticas reais de prevenção, atendimento e autonomia para as mulheres, mesmo quando isso mexe com os privilégios do sistema?
Porque se a política não enfrenta o ciúme como sinal de alerta, ela assina embaixo da sentença. E, mais cedo ou mais tarde, é o corpo de uma mulher que vai pagar essa conta.

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