Projeto resgata 30 anos de músicas feitas por mulheres e lança single com GAVI

Atualizado em 11/12/2025 – 09:43

O Espírito Santo passa a reconhecer, a partir desta quinta-feira (11), uma parte esquecida de sua história musical. O projeto Clitória Musicalis, idealizado e dirigido pela compositora e produtora Joana Bentes (foto), lança o single “Tem Que Ser Você”, primeira faixa de um trabalho que mapeou e regravou composições de mulheres capixabas produzidas ao longo dos últimos 30 anos, mas que nunca receberam registro fonográfico adequado. A música já está disponível nas plataformas de áudio.

A iniciativa, viabilizada pela Lei Rubem Braga, busca corrigir uma lacuna histórica da música feita por mulheres no estado. Além do single, que chega às plataformas de streaming nesta quinta, o projeto prevê o lançamento de um álbum completo no dia 9 de janeiro de 2026, e um show de estreia marcado para 17 de janeiro, no Teatro Virgínia Tamanini, no Sesc Glória, em Vitória (mais informações serão divulgadas em breve).

O single apresentado agora traduz o espírito do projeto: uma obra do passado, escrita pela compositora Daniela Moraes, ganha uma nova leitura na voz de GAVI, um dos nomes mais presentes da cena atual.

A escolha da música, que integra o conjunto de nove faixas regravadas, reflete a proposta central do Clitória Musicalis: aproximar gerações e iluminar um repertório feminino que permaneceu à margem da memória oficial da cultura capixaba.

“A maior parte desse material não está acessível. Considero isso muito grave”, afirma Joana Bentes, responsável pela direção musical, arranjos e pela curadoria de todo o álbum.

Segundo ela, a invisibilidade das compositoras não é um acidente histórico, mas consequência de um ambiente musical atravessado pelo machismo. “A música capixaba produzida por mulheres precisa desse destaque, sobretudo quando consideramos práticas que, no dia a dia, invisibilizam ou calam as mulheres”, explica.

Ambiente feminino transformou o resultado das gravações

O álbum foi gravado no Estúdio Funky Pirata, em Vitória, com uma equipe técnica e artística formada majoritariamente por mulheres.

A banda base, que toca tanto no single quanto em todo o disco, reúne Maressa Machado (bateria), Thaysa Pizzolato (sintetizadores), Yasmin Miyeko (baixo), Paula Pividori (guitarra) e Dora Dalvi (violão).

Para Joana, esse contexto foi essencial para libertar interpretações e criar espaço de troca genuína entre as artistas.

“Foi muito interessante ver a ‘armadura’ sendo desfeita. As musicistas muitas vezes chegam aos estúdios com uma postura de defesa, pois precisam ser excepcionais o tempo todo. Mas ali, só com mulheres, essa barreira foi quebrada”, relata.

Ela explica que muitas musicistas da nova geração ouviram, pela primeira vez, canções compostas por mulheres que produziram nos anos 1990, 2000 e 2010 e que, apesar da qualidade, jamais haviam circulado fora de pequenos círculos.