Atualizado em 11/10/2025 – 15:01
Locadora fechou as portas em 2014, mas batismo popular do espaço permanece vivo no dia a dia dos moradores do bairro.
Quem passa pela praça de Jardim da Penha, em Vitória, dificilmente a chama pelo nome oficial. Para os moradores do bairro, aquela grande rotatória preenchida por árvores e um “Pracão” continua sendo, simplesmente, a “pracinha da Flash”, uma referência que atravessa gerações e resiste ao tempo.
O curioso é que a Flash Vídeo, a videolocadora que batizou o local, encerrou suas atividades há mais de uma década. A última unidade da rede fechou em 30 de outubro de 2014, encerrando 27 anos de história e deixando para trás pilhas de DVDs em liquidação e as memórias de milhares de capixabas que frequentaram suas oito lojas espalhadas pela Grande Vitória.
O fim de uma era
A Flash Vídeo foi vítima de um fenômeno global que transformou completamente a forma como consumimos entretenimento. A concorrência dos DVDs piratas, dos downloads gratuitos pela internet e dos serviços de TV paga tornou insustentável o modelo de negócio das videolocadoras.
No auge, a Flash empregava 200 funcionários e oferecia um acervo de 50 mil títulos. A unidade de Jardim da Penha, que resistiu até o fim, mantinha-se principalmente por conta dos universitários que buscavam filmes mais alternativos, um diferencial que os serviços de streaming da época ainda não ofereciam com tanta variedade.
Por que o nome persiste?
O fenômeno não é exclusivo de Vitória. Em diversas cidades brasileiras, praças e pontos de referência mantêm apelidos ligados a estabelecimentos comerciais que já não existem mais. É uma característica da memória urbana: os lugares ganham identidade a partir das experiências compartilhadas por quem os frequenta.
A “pracinha da Flash” funcionava como ponto de encontro. Era comum que amigos marcassem de se encontrar ali antes de escolher o filme da noite ou simplesmente a usavam como um ponto de referência. Essa rotina, repetida por anos a fio, consolidou o nome na geografia afetiva do bairro.
Além disso, Jardim da Penha é um bairro universitário, com alta rotatividade de moradores. Mesmo assim, o nome se perpetua: veteranos ensinam aos calouros que aquela é a “pracinha da Flash”, e assim a memória coletiva se mantém viva.
Mais que nostalgia
O caso da pracinha ilustra como a cidade é construída também por suas histórias e memórias. Enquanto prédios sobem e comércios mudam, os nomes populares resistem como testemunhos de outros tempos, quando alugar um filme era um programa de sexta-feira à noite e a escolha do DVD certo poderia levar meia hora de debate.
Para quem cresceu na era das videolocadoras, a permanência do nome traz um misto de nostalgia e conforto. É a prova de que, mesmo em meio a tantas transformações tecnológicas, algumas coisas permanecem: a capacidade humana de criar laços com os lugares e de manter viva a memória do que já foi.

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