Atualizado em 16/01/2025 – 11:42
O mês de janeiro marca mais do que o início de um novo ciclo. É também um momento de reflexão e cuidado com a saúde mental, promovido pela campanha Janeiro Branco, que desde 2014 busca conscientizar a população sobre a importância de prevenir e tratar transtornos mentais.
Em entrevista exclusiva ao VIXFeed, os psiquiatras Indira Pinto e Rafael Aguilar, do Espaço Söra Psiquiatria, destacaram a relevância dessa iniciativa, especialmente em um país que enfrenta desafios crescentes no cuidado à saúde mental.
A palavra “ansiedade” foi eleita a palavra de 2024 para os brasileiros. Como essa escolha reflete a importância de campanhas como o Janeiro Branco?
Indira Pinto e Rafael Aguilar: O destaque da palavra ansiedade em 2024 para os brasileiros está relacionado as estatísticas crescentes de transtornos de ansiedade em nossa população, sendo o de ansiedade generalizada um dos mais prevalentes.
Hoje, o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo. Campanhas como “Janeiro Branco” são estratégicas e importantes para falar abertamente sobre prevenção e tratamento dos transtornos mentais, nesta época do ano em que as pessoas estão planejando novas perspectivas e mudanças em relação ao próprio cuidado.
Como vocês enxergam o debate sobre saúde mental no Brasil?
Indira Pinto e Rafael Aguilar: O debate sobre saúde mental no Brasil tem avançado, porém ainda precisa alcançar patamares de maior equidade no acesso às informações, prevenção e tratamento, principalmente para populações mais vulneráveis. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental pode ser considerada um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade.
O bem-estar de uma pessoa não depende apenas do aspecto psicológico e emocional, mas também de condições fundamentais, como saúde física, apoio social, condições de vida. Além dos aspectos individuais, a saúde mental é também determinada pelos aspectos sociais, ambientais e econômicos.
Vocês acreditam que o Janeiro Branco ajuda a reduzir o estigma em torno do adoecimento mental?
Indira Pinto e Rafael Aguilar: Sim, é uma campanha que começou em 2014 e ainda vem se consolidando enquanto estratégia de política pública, sendo instituída com uma lei federal no ano de 2023. Ela é muito importante na redução do estigma e preconceito em relação ao adoecimento mental que ainda é considerado um tabu em nossa sociedade.
Qual é a importância de ampliar a presença de profissionais de saúde mental nos dispositivos do SUS?
Indira Pinto e Rafael Aguilar: É de suma importância que a rede de saúde mental no âmbito do SUS esteja fortalecida e devidamente estruturada, com equipes e profissionais capacitados, de modo que as pessoas em sofrimento psíquico encontrem o acolhimento e tratamento que necessitam. Para que campanhas como “Janeiro Branco” e “Setembro Amarelo” tenham impacto favorável em nossa sociedade, é fundamental que a rede de atenção à saúde esteja preparada para atender as necessidades de saúde mental da população.
Vocês acreditam que as redes sociais e a mídia têm ajudado ou prejudicado o debate sobre saúde mental?
Indira Pinto e Rafael Aguilar: Depende. As redes sociais podem ser grandes aliadas quando há um cuidado em relação ao conteúdo e o modo como ele é transmitido nesses espaços, para população. Por outro lado, é importante estarmos atentos às informações sem embasamento científico, promessas irreais de soluções simples para problemas complexos, checklist de autodiagnósticos on-line. Lembrando que o uso excessivo das mídias sociais pode levar ao aumento de sintomas ansiosos, depressivos, distúrbios de sono e da autoimagem.
Como incentivar as pessoas a buscar ajuda sem sentir vergonha ou medo de julgamento?
Indira Pinto e Rafael Aguilar: É importante pensarmos o processo de saúde pela perspectiva integral, em que saúde física e mental caminham de mãos dadas. Não há saúde mental sem saúde física, e vice-versa. “Quando a mente sofre, o corpo padece”, já diz o ditado. Assim, é fundamental a compreensão de que todos nós estamos suscetíveis a algum tipo de adoecimento psíquico ao longo da vida independente de gênero, religião ou classe social.
Dessa forma, o uso de estratégias de psicoeducação, campanhas de prevenção, promoção de espaços coletivos e individuais de diálogo aberto sobre o tema, educação popular e o não julgamento favorecem a compreensão sobre a necessidade do cuidado permanente da saúde mental.
Receba, semanalmente e sem custos, os destaques mais importantes do ES, do Brasil e do mundo diretamente no seu e-mail.