Atualizado em 04/07/2025 – 18:48
Nesta sexta-feira (4), o cantor, compositor e produtor musical capixaba Dan Abranches lançou o seu novo trabalho, o álbum Agridoce. Com total de 13 faixas, com composição de Dan e colaboradores, o álbum carrega influências de estilos como o rap, a MPB e o neo soul, explorando temas como amores, solidão, apagamento e críticas sociais. As músicas já estão disponíveis nas principais plataformas de streaming, como Spotify e Youtube.
Agridoce é o segundo álbum do cantor e é fruto de um processo criativo intenso, que durou cerca de cinco meses. “Queria algo que traduzisse quem eu sou agora — com a honestidade e a crueza de quem vive as coisas intensamente. Agridoce nasceu assim, carregando as nuances de uma vida real: com alegrias e decepções, tristeza e euforia, saudade e recomeços. Um álbum que transita entre extremos e encontra beleza justamente nesse contraste”, explica Dan.
O novo projeto também marca uma mudança na carreira do cantor, de um som eletrônico para um mais orgânico. Este é seu primeiro trabalho que inclui baterias reais — com arranjos criados por Dan —, quarteto de cordas, coral e outros instrumentos.
Em meio ao lançamento, o cantor conversou com o VIXFeed sobre as influências e momentos que marcaram a produção de Agridoce. Confira a entrevista completa:

Qual é a essência desse novo álbum, a inspiração por trás de Agridoce?
Dan Abranches: Em meados de 2024, senti que era hora de fazer um registro mais completo. Desde 2021, vinha lançando apenas alguns singles esporádicos, mas meu desejo sempre foi construir obras inteiras — com começo, meio e fim. Me considero um artista de álbuns e EPs. Mesmo com o mercado musical cada vez mais voltado para tendências imediatistas, continuo acreditando na força de um trabalho que entrega não só música, mas também narrativa, conceito visual e identidade sonora.
No início do processo, eu já tinha cerca de 20 músicas prontas e pré-produzidas, e achava que ali estava o disco. Mas quando entrei em estúdio, algo me disse que não era aquilo. Resolvi guardar tudo e começar do zero. Queria algo que traduzisse quem eu sou agora — com a honestidade e a crueza de quem vive as coisas intensamente. Agridoce nasceu assim, carregando as nuances de uma vida real: com alegrias e decepções, tristeza e euforia, saudade e recomeços. Um álbum que transita entre extremos e encontra beleza justamente nesse contraste.
Quais influências sonoras te inspiraram nesse novo trabalho? Como você descreveria o estilo de Agridoce?
Dan Abranches: Sou completamente apaixonado por bateria e por tudo que pulsa nos graves — baixo, sub, 808. Quando conheci o Neo Soul, o Blues e outros estilos que exploram o groove mais lento e profundo, algo em mim se acendeu. Desde meu primeiro trabalho solo, em 2017, venho trazendo esses elementos pra minha música.
Mas minha formação musical começa lá atrás, na infância, ouvindo Djavan, Cássia Eller, Tribalistas, Sorriso Maroto — referências que, mesmo com o tempo, continuam vivas no meu DNA artístico. Hoje, escuto muito rap, blues e neo soul, e acho que Agridoce é exatamente esse ponto de encontro entre o que sempre fui e o que venho me tornando. Um disco que mistura as camadas da soul music e do blues com o sabor inconfundível da música popular brasileira, criando algo íntimo, ritmado, orgânico e afetivo.
Como a experiência de criar esse álbum foi diferente em relação a outros processos de criação anteriores na sua carreira?
Dan Abranches: Eu comecei minha carreira solo com um computador e um sonho. Na época, baixei o FL Studio e produzi meu primeiro EP, Ruby, usando apenas instrumentos virtuais — porque era o que eu tinha. Não contava com equipamentos, estúdio, nem instrumentos físicos. Mas acredito que as limitações também despertam criatividade, e mesmo com poucos recursos, consegui criar algo com uma sonoridade que me representava. Com o tempo, fui me equipando melhor, estudando mais, mas ainda fazia tudo de forma independente, em casa. Eu compunha, produzia, arranjava e gravava todos os instrumentos e não tinha recursos financeiros para chamar mais colaborações.
Agridoce marca um novo momento. É meu segundo álbum, mas o primeiro em que entro num estúdio de verdade, com tempo, estrutura e pessoas ao meu lado. Consegui convidar outros instrumentistas, cantores, trabalhei com Bruno Santos, um arranjador maravilhoso que fez o quarteto de cordas de “Maçã”, e tudo isso num ambiente tratado acusticamente, sem interferência externa. Isso trouxe uma organicidade que se sente em cada faixa — e também a sensação de que, depois de tanto tempo fazendo tudo sozinho, eu finalmente pude dividir esse sonho com outras mãos, vozes e escutas.
Teve alguma música que se destacou durante esse processo e te marcou de alguma forma especial, seja no processo de criação ou pelo resultado final?
Dan Abranches: Sim. Jurema é, sem dúvida, a faixa mais marcante desse álbum pra mim. É uma homenagem à minha avó, que faleceu em 2021. Logo após sua partida, escrevi um poema como forma de lidar com o luto, e guardei esse texto por um tempo. Durante o processo de composição do álbum, senti que era o momento certo de transformar aquele poema em música — e prestar minhas homenagens a uma das pessoas mais incríveis que já conheci.
Ela me ensinou tudo o que sei sobre ética, respeito e amor. Dedicou a vida inteira ao trabalho voluntário e ao bem-estar das pessoas ao seu redor. Jurema carrega um sentimento profundamente agridoce: a dor da ausência e da saudade, mas também a alegria imensa por ter vivido ao lado de alguém tão especial. Cantar essa música é minha forma de manter viva a memória dela.
Por que você escolheu Agridoce como a música que dá nome ao álbum?
Dan Abranches: Antes mesmo de ter um nome pro álbum, eu estava naquele processo de reunir tudo o que tinha produzido — eram cerca de 17 faixas — e entender quais músicas realmente faziam sentido estar ali. Agridoce já existia como faixa, com esse nome, e foi uma das primeiras que me tocou de forma especial.
Quando me reuni com a Flora Fiorio, que assina a direção visual do projeto, começamos a pensar em um título que traduzisse o sentimento do disco como um todo. Ouvindo as músicas, percebemos uma dualidade muito clara: havia faixas doces, solares, leves — e outras mais introspectivas, lentas, com tons mais ácidos ou amargos. Era um contraste muito marcante, mas também muito verdadeiro.
Foi aí que entendemos que Agridoce não era só uma canção: era a sensação que permeava todo o álbum. A escolha do nome veio desse lugar — de reconhecer que as emoções que o disco provoca não são lineares, mas contraditórias, profundas e reais. Como a vida.
Conheça o artista
Cantor, compositor e produtor musical, Dan Abranches começou sua carreira na música com EP “Ruby” (2017) que mescla beats, sintetizadores e R&B. O artista criou uma performance solo inédita em que tocava todos os instrumentos ao vivo, enquanto manipulava efeitos vocais e tocou em festivais como a Fábrica Lab e o Viradão Vitória. Em 2019 participou do programa The Voice Brasil. Homens trans, o artista define sua carreira como “pautada na liberdade criativa, na performance e no diálogo com a diversidade”.
Em 2020 produziu o EP “Flor de Laranjeira”, seu trabalho de maior alcance, que superou a casa de 1 milhão de streams. No ano seguinte, Dan lançou seu álbum de estreia, “Titan”, álbum experimental que aborda o processo de transição de gênero e traz colaborações com artistas trans como Afronta MC e Pê Lopes. Agora, inicia uma nova fase com seu segundo álbum, “Agridoce”.

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