Atualizado em 11/12/2025 – 15:47
A vida não é um morango, mas tem morango às vezes. Eu nunca entendi por que um morango poderia ser um sinônimo de vida fácil se a gente não sabe quando ele está doce, azedo ou é uma caixa podre no fundo e vermelhinha em cima.
Talvez a vida seja um morango por não ser previsível, como o morango também não é. A vida é um morango? Considerando o morango pela beleza, a metáfora fica mais fácil. Verde ou maduro, o morango é bonito. A vida também, menos quando apodrece.
Clarice Lispector manda “Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos” depois de matar a Macabéa e chamar a morte atropelada e anunciada de hora da estrela.
Talvez ela converse com “viver é fácil de olhos fechados”, lá nos campos de morango dos Beatles, onde nada é real. “Strawberry fields forever”. E tem a Moranguinho, que era uma boneca muito fofa com cheiro de corante de morango.
E tem sorvete de morango que não tem gosto de morango, como biscoito de morango e aquele batom de moranguinho também não tem. A vida e o morango são muita coisa.
Que sentido tem o seu morango, minha filha? Ele mata a Macabéa, ele acama os aflitos? Ele fica mofado como no livro que eu não li do Caio Fernando Abreu? Que morango é o seu, minha filha?
Eu acho que não entendo nada de morango. Mas eu gosto. Eu gosto de várias coisas de morango, e do morango. Talvez o morango seja o desejo. Eu não entendo nada, mas eu como. E a vida vira um morango depois?
Nada! Tem muito morango ainda.
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O texto acima começou a ser escrito por uma provocação feita em evento do projeto Lugares de Ler, da Secult – ES. A Ediphon Souza, que é agente literária em Novo Horizonte (além de escritora e professora), propôs que cada um dos presentes na atividade fizesse um texto a partir de uma das fotos tiradas pelos participantes daquele território. Eu peguei a foto do morango, que foi tirada por Isabelle Santana.

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