Fosse uma escolha da minha mãe, eu ainda escreveria cartinhas ao Papai Noel até hoje, aos 37 anos completos. Minha mãe ama o Natal e o Papai Noel e nos educou para a fantasia do Natal ser preservada com bolas, renas e surpresas.
Ocorre que Francisco e Benjamin, meus sobrinhos e netos de minha mãe, já não acreditam no bom velhinho do alto de seus seis anos de idade. Eu soube porque minha irmã mandou no grupo de família no Whatsapp a foto da cartinha de Francisco.
Francisco fez a carta pedindo presentes, mas disse que não fazia sentido pregar na árvore de Natal porque Papai Noel não existe. Vale ressaltar que ele respeita as tradições, e, portanto, desenhou a si mesmo de mãos dadas com o velho.
Marcela, minha irmã, conta que Francisco descobriu a inexistência da lenda porque Benjamin contou. E Benjamin, por sua vez, descobriu que Papai Noel não existe na fila de tirar foto com ele no shopping. “Mamãe, Papai Noel é só um velho fantasiado”, sentenciou.
Maya, a sobrinha de quatro anos, irmã dos gêmeos de seis, não se atentou muito para a discussão e acho que por isso ainda tem a crença intacta. O assunto não é de seu interesse, a menina nunca gostou de Papai Noel, desde bebê.
Todas as fotos de Natal dela com o velho são fazendo uma cara muito feia. Fez a cartinha porque gosta de ganhar presente e entende a necessidade de cumprir os protocolos familiares e sociais. Maya é uma gênia da socialização kids.
Eu perguntei se ninguém tentou dizer para as crianças que os vários velhos fantasiados imitavam o Papai Noel verdadeiro, muito mais mítico e misterioso. Minha irmã informou que não tentou manter a lenda viva.
Acho que é influência de minhas tias, traumatizada por nunca terem tido seus presentes reconhecidos por nós, sobrinhos, já que todos eram do Papai Noel. Eu me senti tocada pela experiência delas, e nunca disse aos meus próprios sobrinhos que os presentes eram de outra pessoa.
Eu mesma comprei, é presente da titia Aline. Nada de Papai Noel. E minha mãe, coitada, fica tristíssima. Gosta da fantasia. Sustenta que criança precisa acreditar em alguma coisa. Não conseguiu completar cinco natais sendo ela o velho do Polo Norte dos netos.
A bem da verdade, fico um tanto aliviada com a esperteza de meus sobrinhos porque fui sonsa a vida toda, então eu era a última da minha sala acreditando em Papai Noel. E isso era uma grande vergonha. Eu chegava em casa e dizia “mãe, o povo disse que Papai Noel não existe”. E minha mãe lá, sustentando o Polo Norte contra todo o ensino fundamental.
Por fim, não teve jeito. Chorei o fim da fantasia como meus sobrinhos não choraram. Pra mim foi o começo do fim da infância, pra eles, mais uma descoberta. É só um velho, avisam. E na carta, pedem fantasias (de princesa para a Maya, de Minecraft para Francisco e Benjamin).

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