Atualizado em 02/12/2025 – 14:50
A prisão do “Calvo do Campari” virou notícia, mas o que deveria virar debate é bem maior do que um influencer preso: é o ambiente político que fabrica esse tipo de figura e depois finge surpresa quando a violência transborda para a vida real.
Porque sim, existe uma responsabilidade política aqui, e ela não está só nas leis. Ela está no clima que a política cria, no discurso que valida comportamentos, no silêncio que empurra agressões para a normalidade.
Nos últimos anos, virou moda transformar misoginia em identidade. E o que deveria ser prontamente rechaçado acabou encontrando eco em palanques, discursos oficiais e posturas públicas que romantizam brutalidade masculina. Essa legitimação não é acidental; ela faz parte de um projeto político que se alimenta do conflito, da divisão e da ideia de que a mulher é um problema a ser controlado, nunca um sujeito político completo.
Quando líderes tratam violência de gênero como “exagero”, quando fazem piada com denúncias, quando relativizam sofrimento, eles não opinam, eles autorizam. Autorizam o discurso violento, autorizam o comportamento abusivo, autorizam que homens cresçam acreditando que o erro é sempre dela, e que a punição só existe quando o caso vaza para a imprensa.
E é aqui que a política mostra sua face mais perigosa: ela pode não bater, mas ela arma o ambiente para quem bate se sentir à vontade.
Enquanto isso, figuras como o Calvo do Campari se tornam produtos desse ambiente. Não são acidentes. Não são desvios. São sintomas de uma cultura que a política patrocinou, amplificou e deixou correr solta porque rende clique, rende narrativa e rende voto em determinado tipo de eleitor.
E aí entra a pergunta que incomoda, aquela que ninguém no jogo eleitoral gosta de responder: quem lucra quando a violência contra a mulher é tratada como exagero, piada ou disputa ideológica?
A política é, sim, sobre orçamento, pauta e governo. Mas antes disso, é sobre aquilo que ela escolhe normalizar.
E hoje, o que está normalizado custa caro. Custa vidas, custa saúde mental, custa mulheres que pagam o preço de um discurso público irresponsável.
Se o país realmente quiser reduzir casos como o do Calvo do Campari, vai precisar de algo básico: coragem política para parar de alimentar monstros e não só para reagir depois que eles mordem.

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