Atualizado em 30/06/2025 – 22:22
É impressionante como, em pouco mais de seis meses, a nova diretoria de uma importante Ordem de advogados do Espírito Santo conseguiu se enredar numa teia que, ironicamente, reflete as mesmas práticas que tanto prometeu desmantelar. Aquela conversa de “renovação”, “democracia” e “independência”, que ecoava nos palanques com a força de um ideal, parece ter sido sutilmente trocada por um tom bem mais familiar nos corredores da advocacia local: centralização, disputas por holofotes e, claro, a velha e conhecida sede de poder – o clássico efeito da armadilha do poder.
Quem vive o dia a dia da entidade é categórico: o grande desafio da atual líder parece ter sido começar o mandato já pensando na próxima eleição. Ou, como já se comenta em seu círculo mais íntimo e nos cochichos mais reservados, numa possível reeleição. Uma ideia que, para muitos, carrega uma ironia impossível de ignorar e levanta sérias dúvidas sobre as verdadeiras prioridades da gestão.
E é aqui que a coisa pega, o nó da questão: criticou-se à exaustão o uso da estrutura da Ordem para projetos pessoais na gestão anterior, com direito a reprovação de contas que beiravam o absurdo. No entanto, para a surpresa de muita gente, o que se vê agora não é exatamente um filme novo, mas uma história que, em certos aspectos, segue um roteiro já conhecido. A máquina da instituição continua a todo vapor, mas, desta vez, a sensação é de que ela opera para blindar e proteger os interesses da própria presidente. Onde, então, foi parar a tão prometida “renovação”?
Um exemplo que salta aos olhos nesse cenário: Kelly Andrade, presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Estado (CAAES) e peça-chave na campanha da atual líder, deveria, no mínimo, ser agraciada com a mais pura gratidão. Afinal, sua dedicação foi inquestionável. Mas o que aconteceu? Ela virou alvo de uma estratégia de neutralização. Bastou Kelly começar chamar atenção e supostamente um nome promissor para o futuro da Ordem, que a presidente, talvez movida pela vaidade ou pelo receio de ver seu protagonismo ameaçado, agiu para neutralizar a possível rival. Uma jogada que, para muitos, revela mais sobre as dinâmicas internas de poder do que sobre qualquer traço de liderança visionária.
Um episódio que simboliza bem essa dinâmica: a alteração no estatuto da própria CAAES, presidida por Kelly Andrade. Há relatos de que essa mudança foi conduzida de uma forma que gerou questionamentos sobre a devida consulta à instituição e a transparência do processo. Considerada por muitos como uma medida que pecou pela falta de debate democrático e participação efetiva dos envolvidos, a alteração foi homologada às pressas pelo Conselho da Ordem, sem espaço adequado para manifestação da CAAES. Um movimento que, segundo observadores, revela a preocupação da atual gestão com o fortalecimento dos delegados da Caixa, especialmente nas subseções do interior do estado. Fontes próximas ao conselho garantem que essa extinção não seguiu os verdadeiros ritos. Pelo contrário, a percepção é de que a medida foi gestada no improviso, com a agilidade de quem governa por meio de mensagens de aplicativo. Sim, uma ação que, para muitos, representa um golpe um episódio que, no mínimo, levanta sérias dúvidas sobre a governança e abala a confiança na gestão.
A revogação desses cargos, interpretada por muitos como uma tentativa de enfraquecer possíveis bases de apoio alternativo, se transforma em mais um ponto de tensão e questionamento sobre os reais objetivos por trás de tais ações.
E a trama não para por aí. Fontes confiáveis garantem que Kelly Andrade não é a única a enfrentar essa dinâmica de “distanciamento de projetos”. Integrantes do Conselho relatam que o polêmico pedido de extinção dos cargos de representantes das subseções – aprovado recentemente – não surgiu de um debate institucional robusto e inclusivo o que vem de fato aumentando o número de opositores da gestão atual.
O que era criticado, agora se manifesta.
O enredo da Ordem, infelizmente, parece uma história que se repete, com capítulos que se desenrolam sob o signo da contradição. Em apenas sete meses de mandato, o que mais se destaca é justamente aquilo que tanto se abominava:
A disputa por protagonismo, antes condenada, agora presente com fervor.
O uso estratégico da estrutura institucional, que deveria servir à advocacia como um todo, mas parece, em certos momentos, servir a poucos, a um grupo seleto.
O distanciamento de projetos e a neutralização de possíveis adversários, uma tática antiga que ganha nova roupagem – mais sutil, mas igualmente eficaz.
Decisões atropeladas e uma perniciosa disputa por protagonismo, que minam a confiança e a união da classe, gerando um clima de descontentamento.
Mas, como insistem alguns otimistas, ainda há uma fresta de esperança, um fio de luz no fim do túnel. Estamos no início de tudo, e o poder, com sua capacidade de seduzir e isolar, também pode ser um grande professor – um mestre implacável. A pergunta que ecoa nos corredores da Ordem é inevitável, pairando no ar como uma névoa: será que a atual gestão vai, de fato, aprender com os erros que jurava combater? Ou a advocacia local assistirá, mais uma vez, a uma narrativa de desunião institucional ganhar novas e desnecessárias temporadas, perpetuando um ciclo vicioso que em nada contribui para o fortalecimento da classe?
A resposta, só o tempo dirá.
Este artigo é de responsabilidade da autora e não reflete necessariamente a opinião editorial do VIXFeed.

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