O Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), o São Lucas, em Vitória, registrou um número recorde de captações de órgãos nos últimos 30 dias. Entre os órgãos, foram doados dois corações, fazendo com que o Hospital voltasse a realizar esse tipo de transplante após dois anos.
Somente nos últimos 30 dias, foram captadas 14 córneas, 2 fígados, 4 rins e 2 corações. Em 2025, já são três corações captados, sendo dois deles nos meses de março e abril. Os números são expressivos e superam os dados dos últimos 12 meses.
Segundo a Enfermeira Coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), Tamires Vieira Silva, fatores como a mobilização das equipes envolvidas e o fortalecimento da articulação entre os hospitais e as centrais de transplantes são fundamentais para esse avanço. Além disso, ela destaca o papel da abordagem das famílias no resultado.
“É sempre um processo cuidadoso, individualizado, em ambiente calmo e com profundo respeito às demandas de cada família. Envolvemos a equipe multiprofissional — enfermeiros, assistente social, psicólogo e capelania — para garantir que esse momento seja acolhedor e humanizado, dentro das possibilidades”, afirma.
Apesar do avanço, a captação de coração segue sendo uma operação rara e desafiadora. Segundo a coordenadora, o procedimento exige que o órgão seja retirado e transplantado em um curto intervalo de tempo e condições específicas do doador.
“Não é qualquer caso que permite a captação de coração. Os critérios são rigorosos, e o tempo para transporte e cirurgia é muito limitado. Isso faz com que essa captação exija uma logística muito precisa e uma equipe altamente treinada, envolvendo muitas vezes o apoio da Guarda Municipal ou da Força Aérea Brasileira (FAB)”, explica Tamires.
Fila para transplante
De acordo com o Sistema Nacional de Transplantes, atualizado até 11 de abril, 2.606 pessoas aguardam por um órgão no Espírito Santo. A maior parte está na fila por córneas (1.460 pacientes), seguida por rim (1.098), fígado (42) e coração (6).
Um dos pontos fundamentais para que o trabalho desses hospitais continue avançando é a conscientização da população, já que a recusa familiar ainda é um dos principais obstáculos enfrentados pelas equipes de captação.
Mesmo que o desejo de ser doador esteja registrado, a doação só é possível quando um familiar de 1º ou 2º grau a autoriza. Por isso, é muito importante conversar sobre esse desejo em vida, deixando claro que você quer ser doador — isso facilita a decisão final, que precisará ser tomada por alguém próximo. De acordo com Tamires, cada doação pode salvar até 8 vidas.

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