Atualizado em 02/01/2025 – 18:59
Três homens, com idades entre 18 e 19 anos, foram presos suspeitos de abusarem sexualmente de adolescentes entre 13 e 18 anos, sob pretexto de práticas religiosas, no município de Cariacica, na Grande Vitória. De acordo com informações passadas pela polícia em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (2), eles cometiam os crimes em reuniões particulares de grupos de jovens frequentadores de igrejas evangélicas e diziam para as vítimas que estavam possuídos, para conseguirem o que queriam.
As investigações apontam que o crime começou no final do ano de 2023, mas só foi descoberto pelas famílias em outubro de 2024. O crime foi denunciado no dia 18 de dezembro e, até o momento, nove vítimas foram identificadas, mas outras quatro foram citadas em depoimentos, o que faz com que as investigações continuem.
A delegada adjunta da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Gabriella Zaché, explicou que os suspeitos frequentavam várias igrejas evangélicas em Cariacica e ganhavam a confiança das famílias das vítimas, inicialmente formando grandes grupos de oração. Mas, a partir do momento que percebiam que os pais confiavam neles, passavam a fazer as reuniões somente com os adolescentes. Eram os momentos em que os abusos aconteciam, segundo a polícia.
“Um deles dizia que recebia entidades [durante as reuniões] e que passou a ameaçar esses jovens a manter relações sexuais com eles. Um comandava o grupo, mas tinham outros dois que faziam a mesma coisa, sempre usando o nome de Deus, utilizando a fé dessas pessoas, desses jovens que frequentavam a igreja. Era como se fosse um sacrifício, pois alegavam que se não fizessem o que pediam, continuariam possuídos e ameaçavam matar as famílias daqueles adolescentes”, contou a delegada.
Ainda de acordo com a polícia, além das práticas sexuais, os suspeitos também faziam com que os adolescentes se cortassem, como forma de punição, e também pediam fotos nuas das meninas.
As denúncias ocorreram depois que os pais perceberam mudanças no comportamento dos filhos e verificaram as conversas no grupo de WhatsApp, onde tinham conversas sobre os encontros.
“Os pais disseram que antes os filhos eram jovens tranquilos, frequentavam a igreja, tocavam instrumentos e se demonstravam calmos. Depois, se tornaram mais agressivos, o que chamou a atenção. Ao verificarem os celulares dos filhos, os pais descobriram conversas em um grupo de WhatsApp, por meio do qual eram marcados os encontros. Nesse grupo, os jovens eram obrigados a comparecer sob ameaça de terem seus pais ou familiares mortos”, afirmou a delegada titular da DPCA, Thais Cruz.
Os adolescentes também relataram, em depoimento, que eram ameaçados pelos suspeitos com uma faca e também um pedaço de madeira, para que cumprissem o que era pedido.
A delegada Thais Cruz também explicou que os pais demoraram cerca de dois meses para denunciarem o crime por medo. “Inicialmente, eles ficaram em choque por serem pessoas da igreja e as vítimas estavam muito abaladas, com muito medo. Mas um dos autores começou a perseguir as vítimas, querendo continuar os encontros. Foi a partir do momento que ele foi até a casa de uma delas para levar uma carta que eles viram que a coisa era muito mais séria, e que foram até a delegacia. Nessa carta, o suspeito dizia que continuava possuído e que não era para eles o abandonarem”, disse.
Prisões
A Polícia Civil informou que, nos momentos das prisões, os suspeitos não reagiram. Ao relatarem o que acontecia, mantiveram a versão de que agiam daquela forma por estarem possuídos.
“A defesa de um deles alegou que ele tem problemas mentais, mas ele só apresentou atestado de laudo de ansiedade e depressão, e isso não tem ligação com o crime”, disse a delegada titular da DPCA.
Uma jovem de 17 anos, que segundo a polícia é noiva de um dos suspeitos, também participava do crime, mas a Justiça entendeu que ela não deveria ficar presa. “Nas primeiras vezes que tudo ocorreu, foi ela que convidou as meninas para a irem à casa. Ela já sabia o que ia acontecer, chegava a pagar Uber para as vítimas irem até o local. Pedia também as fotos íntimas das meninas também em nome dele [o noivo]. Então ela participou de tudo”, falou.
Igrejas não têm ligação
A polícia ainda destacou que o crime não tem qualquer relação com igrejas evangélicas, que os suspeitos apenas adentravam esses ambientes para conquistar a confiança dos fiéis e as reuniões ocorriam em residências particulares.
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