Atualizado em 13/11/2025 – 15:34
Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst, além de grandes escritoras, eram amigas e camaradas. Se ajudavam. Eu li na internet e lembrei das minhas amigas escritoras. Achei bonito. E achei bonito porque sinto que este tem sido um ano em que nós – pessoas literárias – estamos cultivando frequentemente nossas camaradagens.
Isso me faz bem. Acho que quando a gente se escuta e se acolhe, a gente ganha força de ir mais longe. Ainda mais quando temos escutas em frustrações parecidas. Entre nós, escritoras, muitas vezes é grande a frustração nas demoras dos leitores, nos contratos, nos contatos que não são no nosso tempo urgente.
Tem, também, alguma inveja quando outras pessoas conseguem coisas que queríamos antes da gente: e pode ser falar muito bem em público ou vender mais livro, ou mesmo conciliar melhor as tarefas. Mas passa. Passa porque se minha inveja é igual à inveja da minha coleguinha e eu posso falar sobre ela, a gente elabora.
Menções honrosas:
A Carla Guerson é minha parceira de programa de rádio desde fevereiro, quando começou o Marca Texto na Espírito Santo FM 89,1. A gente fica lá tendo ideias, conversando de literatura toda semana e acho que a cada encontro nós nos aceitamos mais. Fora que eu amo os livros dela, ela gosta dos meus, a gente discorda sobre os que outras pessoas escreveram, mas a gente se escuta.
Também tem a Sara Lovatti, que é a principal divulgadora do meu poema da bunda, bem como eu me sinto feliz em ser a principal divulgadora do conto que fala sobre seus molares. A bunda está no meu livro Suja, que lanço em versão áudio nesta quinta (13), na Casa flor, mas fica disponível on-line depois forever (https://www.editoramare.com/poesia/suja). Já o molar da Sara está no livro de contos dela, o Cardápio, disponível com a própria (@saralovattti).
Aí tem a Thalia Peçanha, com quem partilho canetas. Estamos trabalhando juntas em uma dramaturgia (uma peça infantil chamada O Roubo do Sol). E é difícil escrever junto, mas temos conseguido aceitar as sugestões uma da outra numa lógica que gosto: a de que a partilha vem antes da disputa. Eu não preciso ser melhor do que ninguém, nem ela, e por isso é possível escrevermos juntas a mesma história. Porque temos o mesmo objetivo.
Elenquei várias tarefas e pessoas, mas todas tem uma coisa em comum: a partilha. Há companhia real, parceria, escuta, puxão de orelha que volta e meia a gente dá e toma. Esse conforto que é ter com quem contar em um lugar tão solitário quanto a escrita. Talvez isso seja uma subversão da ordem, eu não sei. Sei que frutifico mais acompanhada.
Também percebo que nenhuma dessas pessoas estaria a meu lado se eu tivesse ficado fincada em fazer gente que não me ama me amar. Foi quando eu desisti dessa parte que eu consegui perceber os carinhos que os caminhos me traziam. E eles vêm de gente que topa estar ao lado. Ao lado mesmo, não por cima, não por baixo. Ao lado.

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