Atualizado em 14/10/2025 – 15:52
O país virou um grande palco, e todo mundo acha que está salvando a civilização. De um lado, os autoproclamados defensores da liberdade de expressão. Do outro, os que acreditam estar corrigindo séculos de injustiça social a cada post. No meio, uma sociedade que cansou de ouvir e aprendeu a reagir. O resultado é simples — e devastador. Ninguém quer mais debater, só performar indignação.
A disputa entre o discurso woke e o anti-woke deixou de ser sobre causas, virou sobre quem grita mais alto. O humor, que antes unia, agora separa. A ironia é a nova forma de fazer política. Perfis conservadores entenderam isso primeiro e transformaram o “não me venha com lacração” em identidade eleitoral. E muitos candidatos perceberam que vale mais uma provocação bem feita do que qualquer plano de governo coerente.
Enquanto isso, parte do campo progressista segue falando difícil, moralizando o debate e acreditando que vai conquistar corações com notas de repúdio. O problema é que quem fala de cima perde a escuta de quem vive embaixo. E a direita aprendeu a falar a língua da raiva com uma fluência que a esquerda parece ter esquecido.
A guerra cultural virou o grande motor emocional da política brasileira. A cultura do cancelamento criou medo de errar e o anti-woke transformou esse medo em voto. É uma equação simples. Quando a política se torna território de ressentimentos, vence quem promete vingança, não quem propõe soluções.
No fim, ninguém quer liberdade, querem o direito de ofender sem culpa. Querem o conforto de estar certos, mesmo quando erram. Querem chamar isso de política, quando na verdade é só o espelho quebrado de um país que desaprendeu a conversar.
A guerra cultural é o palanque invisível do Brasil: não precisa de partido, só de inimigo.

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