Atualizado em 05/09/2025 – 08:32
A campanha Setembro Amarelo marca uma mobilização nacional pela vida, destacando a importância de falar sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. Em todo o país, instituições de saúde, escolas e organizações sociais realizam ações de orientação, rodas de conversa e oferta de apoio emocional, buscando reduzir o estigma e ampliar o acesso a cuidados psicológicos. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa), de 1º de janeiro de 2025 até a última terça-feira (2) foram registradas 117 mortes por suicídio no estado.
Para aprofundar a discussão sobre a importância de reconhecer os sinais e buscar tratamento, o VIXFeed conversou com a psicóloga Viviane Lahorgue.
O perigo do silêncio
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, todos os anos, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio, o que significa uma vida perdida a cada 40 segundos no mundo. No Espírito Santo, em 2024, foram registrados 365 óbitos por suicídio, segundo a Sesa. Para a psicóloga Viviane Lahorgue, o silêncio em torno do suicídio – muitas vezes sustentado pelo tabu cultural e pelo medo de ‘incentivar’ comportamentos – acaba reforçando o isolamento das pessoas em sofrimento.
“Quando não se fala sobre o tema, cria-se um espaço de invisibilidade que alimenta a vergonha, o preconceito e a sensação de não pertencimento. Esse silêncio pode ser interpretado pela pessoa em crise como uma confirmação de que sua dor não tem lugar ou escuta no mundo, o que aumenta a percepção de solidão e desamparo. Ao contrário do que muitos mitos sociais sugerem, falar sobre suicídio com responsabilidade não induz ao ato, mas abre a possibilidade de conexão.”
Conversar de maneira empática e com informação adequada ajuda a dar visibilidade à dor, permitindo que ela seja reconhecida e compartilhada. Esse processo pode funcionar como um fator de proteção importante. A escuta sem julgamentos e a validação do sofrimento atuam como estratégias terapêuticas que, em muitos casos, contribuem para interromper o ciclo de desesperança. “O simples gesto de perguntar ‘como você está?’ com genuíno interesse pode ser decisivo para alguém que se sente à margem”, explica a psicóloga.
Portanto, para Viviane, a prevenção ao suicídio exige um duplo movimento: por um lado, quebrar o tabu e promover conversas abertas e acolhedoras no ambiente familiar, escolar e comunitário; por outro, fortalecer políticas públicas que eduquem a sociedade para falar de forma segura, sem estímulo a imitações e sempre oferecendo caminhos de apoio.
“O diálogo responsável é um instrumento que transforma a dor invisível em demanda social legítima, promovendo redes de cuidado e proteção”, diz.
Sinais de alerta
De acordo com Viviane Lahorgue, os sinais de alerta para o suicídio podem surgir de maneira sutil ou explícita e, por isso, exigem atenção redobrada. Entre os mais comuns estão a preocupação constante com a morte, a sensação de desesperança e a percepção de que a vida perdeu o sentido, expressas em frases como “não aguento mais”, “queria sumir” ou “as coisas nunca vão melhorar”. Embora nem sempre revelem uma intenção direta de se matar, esses indícios apontam para um sofrimento psíquico profundo que não deve ser ignorado.
A especialista também destaca a importância de observar manifestações diretas ou indiretas de ideias suicidas em falas, escritas, postagens em redes sociais ou mudanças bruscas de comportamento. Alterações no sono, na alimentação e no humor, isolamento social, perda de interesse em atividades antes prazerosas, abuso de álcool e drogas, queda no desempenho escolar ou profissional e dificuldades de concentração são sinais adicionais que merecem atenção.
Em situações mais graves, autoagressões como cortes e queimaduras podem representar tentativas de lidar com uma dor emocional insuportável e precisam ser encaradas como um pedido silencioso de ajuda. Reconhecer esses sinais e oferecer acolhimento, sem julgamentos, pode ser fundamental para interromper o ciclo de sofrimento.
“Essas marcas no corpo, frequentemente escondidas por roupas largas ou de mangas compridas, são um pedido silencioso de ajuda. Reconhecer esses sinais e oferecer um espaço de acolhimento, sem julgamentos, pode ser a diferença entre o agravamento da crise e a possibilidade de ressignificação do sofrimento”, alerta a psicóloga.
Preconceito
Viviane fala que o preconceito em relação à saúde mental ainda funciona como uma barreira invisível, mas poderosa, que impede muitas pessoas de buscarem ajuda justamente no momento em que mais precisam. Expressões como “isso é falta de força de vontade”, “psiquiatra é para louco” ou “terapia é perda de tempo” continuam circulando no senso comum e reforçam estereótipos que isolam o sofrimento.
Para ela, esse estigma transforma a dor em segredo, alimentando um ciclo de silêncio que pode agravar os sintomas e, em casos extremos, levar ao suicídio. “Esse preconceito tem raízes históricas: no século XIX, o sofrimento psíquico era associado à loucura e marginalização, e parte dessa visão ultrapassada ainda resiste em nossa cultura. O resultado é que muitas pessoas, por medo de serem julgadas, deixam de buscar o apoio profissional que poderia aliviar sua dor e salvar suas vidas.”
Para Lahorgue, a campanha Setembro Amarelo existe justamente para enfrentar essa resistência cultural e ampliar o espaço de diálogo. Ao falar de depressão e outras doenças emocionais, reforça-se que se tratam de condições de saúde, não de falhas de caráter. “Reconhecer a necessidade de cuidado, seja por meio da terapia, do tratamento medicamentoso ou até de uma pausa para descanso, é sinal de sabedoria, e não de fraqueza”, ressalta.
Porém nem todo os caso de suicídio está relacionado diretamente a transtornos mentais. Embora quadros como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia ou transtornos de ansiedade estejam entre os fatores de risco mais estudados, reduzir o suicídio apenas a essa dimensão é um equívoco. De acordo com a psicóloga, comportamento suicida é multifatorial, resultado de uma interação complexa entre aspectos biológicos, psicológicos, sociais, culturais e até espirituais.
Recursos de apoio
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), os grupos mais vulneráveis ao suicídio incluem jovens entre 15 e 29 anos, idosos e populações socialmente marginalizadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, embora os transtornos mentais sejam um fator de risco importante, muitos suicídios ocorrem impulsivamente, diante de crises pessoais, financeiras, de saúde ou relacionais. Populações como LGBTI+, migrantes, povos indígenas e pessoas privadas de liberdade também apresentam maior risco, principalmente quando enfrentam discriminação, isolamento e falta de suporte.
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é referência nacional: oferece atendimento gratuito, sigiloso e 24h/dia, pelo número 188 e pelo site www.cvv.org.br.
Além dele, os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e serviços comunitários em saúde mental fazem parte da rede pública de cuidado. O acesso a esses serviços, aliado ao suporte afetivo de familiares, amigos e colegas, cria um círculo de proteção que pode salvar vidas.
Palestra
Na temática da saúde mental, a renomada Monja Coen desembarca em Vitória no dia 24 de setembro para uma palestra especial no Vitória Grand Hall. Com o tema “Entre o caos e a calma: Como cultivar o equilíbrio”, o evento promete uma noite de reflexões profundas, bom humor e sabedoria prática para quem vive no ritmo acelerado da vida moderna.
A palestra vai abordar como encontrar serenidade mesmo quando tudo parece girar fora de controle. Com histórias do cotidiano, ensinamentos do Zen Budismo e uma linguagem acessível, Monja Coen propõe uma pausa na correria para reconectar corpo, mente e presença.
Serviço:
Data: 24 de setembro de 2025.
Horário: 20h às 22h.
Local: Vitória Grand Hall – Rua Doutor João Carlos de Souza, 55, Santa Luíza.
Ingressos à venda no Sympla (meia, inteira e ingresso solidário).

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