Atualizado em 01/07/2025 – 15:13
No Brasil, odiar corrupção virou quase um esporte nacional. Todo mundo tem opinião pronta, hashtag indignada e discurso moralista na ponta da língua. Mas, curiosamente, poucos sabem sequer o nome dos próprios representantes. Segundo levantamento do Instituto Locomotiva, mais de 60% dos brasileiros não lembram em quem votaram para vereador ou deputado nas últimas eleições. Fiscalizar o mandato, então… nem pensar.
Não por acaso, o Brasil tem um dos índices de reeleição mais altos do mundo. Em 2022, por exemplo, quase 50% dos deputados federais foram reconduzidos ao cargo, muitos sem que o eleitor sequer soubesse o que fizeram — ou deixaram de fazer — no mandato anterior e sequer querem saber o que fazem atualmente. A conta não fecha: a rejeição à política é alta, o discurso contra a corrupção é forte, mas, na prática, os mesmos nomes seguem no poder.
E esse fenômeno não acontece só em Brasília. No Espírito Santo, o roteiro se repete. As câmaras municipais, a Assembleia Legislativa e até o Congresso estão cheios de nomes que se revezam no poder há décadas. O que surpreende é que a própria população, fora da época eleitoral, demonstra até uma certa revolta pelas atitudes dos políticos, mas na hora de votar, cometem novamente os mesmos erros. Intencionalmente ou não, a conta não fecha.
Muitos desses políticos chegam ao cargo justamente porque a indignação do eleitorado não dura mais que o tempo de um trending topic no Twitter — ou melhor, no X.
A verdade é que combater corrupção exige mais do que frases de efeito ou indignação pontual. Exige vigilância. Acompanhar o mandato, entender o que está sendo votado, questionar, cobrar, e, principalmente, lembrar em quem se votou. Mas isso dá trabalho. É muito mais fácil resumir o debate político ao “sou contra corrupção”, enquanto se ignora o básico do processo democrático.
E agora, pós-eleições 2024, a pergunta é direta: você está cobrando quem elegeu? Seu candidato ou candidata fez o que prometeu? Você sabe o que eles estão decidindo por você?
Porque, no fim, não existe milagre na política. Enquanto o eleitor continuar esquecendo em quem votou, o sistema vai continuar lembrando muito bem como te enganar. E, quando a memória do eleitor falha, o palco fica livre para os mesmos discursos vazios, as mesmas promessas fáceis — e os mesmos escândalos.
E se você acha que isso não te afeta, é bom acordar. 2026 está logo ali, e com ela, as escolhas que vão decidir o futuro do país — da economia ao preço do gás, das pautas sociais ao rumo da democracia. Reclamar depois é fácil. Difícil é ter a coragem de participar agora.
Então, fica o convite: antes de levantar bandeira ou soltar discurso pronto, levanta a lista dos seus eleitos. Pesquisa, acompanha, cobra. Porque o Brasil que você diz querer não se constrói só com indignação — se constrói com memória, participação e responsabilidade.
A pergunta que fica é simples: você vai esquecer de novo ou vai começar a prestar atenção agora?

Receba, semanalmente e sem custos, os destaques mais importantes do ES, do Brasil e do mundo diretamente no seu e-mail.