Atualizado em 25/07/2025 – 08:30
Uma pesquisa desenvolvida durante o estágio pós-doutoral da nutricionista e professora Valdete Guandalini, do Departamento de Educação Integrada em Saúde (Deis/Ufes), revelou que a combinação entre o acúmulo de gordura corporal e a perda de massa muscular em pessoas com 50 anos ou mais eleva em 83% o risco de morte, em comparação com aquelas que não apresentam essas duas condições. O estudo acompanhou 5.440 participantes ao longo de 14 anos.
A pesquisa foi realizada no Departamento de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com o Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College London (UCL), tendo supervisão do professor da UFSCar Tiago Alexandre. Durante os trabalhos, os pesquisadores observaram um problema ainda maior: a propensão que pessoas da faixa etária avaliada têm de, ao mesmo tempo, apresentar excesso de gordura corporal (obesidade) e perda de massa muscular (sarcopenia), condição conhecida como obesidade sarcopênica.
Pesquisadora da área da composição corporal, Guandalini explica que o processo de envelhecimento é acompanhado pela perda de massa muscular e pela aquisição de massa gorda, e essa relação, segundo ela, está intimamente associada ao risco de morte.
“Nesse processo, temos o aumento da inflamação de baixo grau, induzida pelo processo de envelhecimento e pelo aumento do tecido adiposo, que, por sua vez, contribui para o declínio muscular. Essas condições levam ao aumento do risco de mortalidade, bem como do risco de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares”.
Estudo pioneiro
Segundo a pesquisadora, o consenso atual para diagnóstico da obesidade sarcopênica (elaborado pela Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo e pela Associação Europeia para o Estudo da Obesidade) determina que a condição seja definida por uma alta porcentagem de gordura corporal associada à baixa massa muscular. Tais parâmetros são, atualmente, avaliados por exames de bioimpedância elétrica ou densitometria de corpo inteiro.
“Um dos nossos questionamentos é que esses métodos são onerosos e exigem preparação e agendamento prévios, além de estarem inacessíveis em muitos serviços de saúde. Esse conjunto de fatores restringe o diagnóstico da obesidade sarcopênica. Nós sugerimos o uso de medidas simples e que são facilmente aplicadas na prática clínica, seja no âmbito particular ou no SUS [Sistema Único de Saúde]”, ressalta.
O estudo desenvolvido por Guandalini foi pioneiro em utilizar, concomitantemente, a circunferência da cintura e uma equação antropométrica composta por medidas como sexo, idade, raça, peso e estatura para identificar a obesidade abdominal e a baixa massa muscular, propondo, de forma simplificada, uma alternativa para o rastreio da obesidade sarcopênica em pessoas com mais de 50 anos.
“Esse método que nós propomos não realiza o diagnóstico, mas um rastreio que nós chamamos de proxy, um indicador de obesidade sarcopênica. Com isso, temos a possibilidade de rastrear e de identificar precocemente, intervindo nessa população”, ressalta.
Segundo ela, a mensagem principal da pesquisa é de que medidas simples e fáceis de serem obtidas na prática clínica podem servir como um proxy para a obesidade sarcopênica. “Esse rastreio vai contribuir para a implementação das intervenções necessárias e reduzir o número de mortes em pessoas com 50 anos ou mais”, conclui.
O estudo completo (em inglês) foi publicado no periódico alemão Aging Clinical and Experimental Research (Pesquisa Clínica e Experimental sobre Envelhecimento).

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