Atualizado em 23/10/2025 – 17:01
“Em português dá pra fazer música sobre qualquer coisa!”, impressionava-se Julian, um britânico magro de 1,86 de altura, branco-rosado de cabelos lisos e louros que conheci na praia (e disse a frase acima várias vezes em bom inglês). Julian é meio artista, gosta muito de ler e de música, e estava encantado pelo Brasil quando nos conhecemos no meio de seu mochilão.
Eu tentei ensinar Julian a dançar forró, mas não deu muito certo. Não sei se foi isso que deu a Julian a certeza de que seria eu a apresentar-lhe o melhor da música brasileira.
Estávamos no mesmo hostel e ele queria saber todas as temáticas da música brasileira quando me perguntou:
_ Aline, is there a feijoada song?
Botei nos alto-falantes do hostel a música Feijoada Completa, de Chico Buarque, para que todos ouvíssemos juntos.
“Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão.”
Julian ficou muito bem impressionado. Expliquei a lógica da música, traduzi para o inglês. Ele pensou sobre nosso idioma, a quantidade de palavras, a riqueza das possibilidades de rima, os costumes, o batuque. Ele gostava, também, de compor; todavia sabia que não seria como brasileiro.
Passamos juntos cerca de dez dias de sua viagem, e ele era um rapaz tão curioso quanto branco e engraçado.
_ Aline, is there a tapioca song?
Recorri ao Mastruz com leite:
“Maria tá peneirando
Goma e massa de mandioca
Quem se casar com Maria
Só vai comer tapioca
Tá, tá, tapioca
Tá, tá, tapioca”
Julian novamente ficou bem impressionado com a nossa variedade linguística e a capacidade brasileira de fazer uma música sobre temáticas variadas.
_ Aline, is there a cheese song?
Essa foi mais difícil. De cabeça eu não lembrava uma música com queijo. Mas de alguma maneira (onde estávamos não tinha boa internet), Alexandre Pires me salvou.
“Quer saber o que tenho pra lhe dar
Vai fazer você delirar
Tem o sabor de queijo com docinho
Meu benzinho você vai gostar
É tão maneiro, uai
É bom demais
Não tem como duvidar
O meu tempero, uai
Mineiro faz
Quem prova se amarra”
E assim batucávamos, cantávamos, íamos à praia, conversávamos sobre música e livros, e Julian volta e meia queria saber coisas culturais do Brasil. Ele só tinha um incômodo: era sempre chamado de gringo, e estava acostumado a ver essa palavra como um xingamento.
_ Aline, is gringo a bad word? (gringo é um xingamento?, em tradução livre)
E eu expliquei que não era, que no Brasil todo mundo que não é brasileiro é chamado de gringo, mas ele pareceu não acreditar muito.
_ Even African people?
_ Yes – expliquei que gringo africano é gringo.
_ Even asian people? (até os asiáticos?)
_ Yes – expliquei que os gringos asiáticos continuam sendo gringos, mas logo percebi que me equivocava e corrigi. _ No! Not asian! Asian are Japas.
_ Every asian are japas in Brasil? (todos os asiáticos, no Brasil, são japas?)
_ Yes.
_ Even corean? (até coreanos?)
_ Yes.
_ Even chinese? (até os chineses?)
_ Yes.
_ Aline, is there a japa song?
“I say japa japa girl in Brazil
Japa japa girl agora aqui no Brasil
So green hair, purple hair, shaved head all and all”
Supla

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