Nos últimos anos, o Brasil mostra uma mudança evidente na mobilização política. Cada vez menos gente vai às ruas. Se uma vez protestos enchiam avenidas e pontes com bravatas e fogueiras simbólicas, hoje muitos atos parecem mais reunião de condomínio do que pressão popular. Pesquisas indicam que o interesse em política caiu de 63% para 53% segundo o DataSenado em 2022, e essa queda está desenhada no asfalto vazio.
O problema não é só de presença, é de consequência. Sem gente ocupando espaço físico, a política perde uma das armas mais fortes que já teve para pressionar governos e mudar rumos. A ausência de multidões é preocupante porque significa também ausência de memória coletiva, ausência de registro histórico e ausência de um recado claro para quem decide.
A responsabilidade não é só do eleitor cansado, mas também dos mobilizadores que ainda acreditam que hashtag enche rua. Não enche. Arte no feed não segura cartaz no sol. Live inflamando bolha não substitui passeata com milhares de vozes dissonantes. A distância entre o discurso online e o corpo presente tem sido ignorada por lideranças que parecem mais preocupadas em medir curtidas do que medir passos na avenida.
É mais cômodo esperar que o cidadão saia de casa por mágica, sem construir diálogo, sem dar clareza de propósito, sem mostrar resultados concretos. A consequência é previsível, ruas esvaziadas e causas que morrem no calor de meia dúzia de stories.
Com eleições no horizonte, fica a pergunta que ninguém gosta de responder. Se nem os próprios mobilizadores conseguem convencer suas bases a saírem de casa, o que esperar de uma sociedade já cansada, desconfiada e descrente. A política não deixou as ruas, mas os mobilizadores precisam lembrar que algoritmo não grita, não marcha e não segura cartaz. Quem insiste em esquecer isso está condenando sua causa a viver de eco digital e vazio físico.

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