O termo “adultização” se tornou o centro dos debates nas redes sociais e até no âmbito político após a publicação de um vídeo do youtuber Felca, que já ultrapassa 38 milhões de visualizações na plataforma. No conteúdo, ele discute os riscos da exposição precoce de crianças e adolescentes no ambiente digital, além de denunciar alguns casos. Para entender melhor o tema, o VIXFeed conversou com a psicóloga especialista em desenvolvimento infantil Kamila Vilela.
A adultização é um fenômeno que ocorre quando crianças e adolescentes são expostos precocemente a comportamentos, responsabilidades, padrões estéticos e conteúdos típicos da vida adulta. Com o acesso cada vez mais cedo às redes sociais por esse grupo, o perigo disso acontecer aumenta.
“Adultizar é empurrar a criança para papéis, condutas ou expectativas que pertencem ao mundo adulto antes da hora, seja de forma sexual, por sobrecarga de responsabilidades, por expectativas emocionais incompatíveis com a idade ou até de forma institucional, quando sistemas e ambientes tratam a criança como se fosse mais velha do que é”, afirma a psicóloga.
A adultização pode se manifestar de diversas formas: no comportamento (namoro precoce, festas noturnas, consumo de álcool ou drogas), na aparência (uso de roupas e maquiagens com conotação adulta e procedimentos estéticos), ou na exposição (participação em vídeos, desafios e conteúdos sensualizados). A psicóloga lembra que a adultização não é sinônimo de amadurecimento, e sim uma antecipação forçada de etapas que deixa lacunas profundas no desenvolvimento.
Sexualização e exploração sexual
Um dos conteúdos denunciados pelo youtuber foi em relação ao caso de uma adolescente conhecida na internet como “Kamylinha” e do influenciador Hytalo Santos, que está sendo investigado pelas acusações exploração infantil, corrupção e aliciamento de menores. Nas redes sociais a adolescente aparecia com roupas curtas, fazendo danças e com comportamentos sexualizados não condizentes com a idade, tudo filmado e publicado por ela e por Hytalo.
“Quando envolve aspectos sexuais, a adultização configura exploração sexual, especialmente ao produzir fotos e vídeos com poses sensuais, incentivar danças sexualizadas, usar enredos típicos da pornografia, ou sugerir, pressionar ou se omitir diante do início precoce da vida sexual. Nessas situações, o comportamento infantil serve direta ou indiretamente ao desejo sexual de adultos, o que é grave, ilegal e profundamente danoso”, diz a especialista.
Uma pesquisa de 2024 da TIC Kids Online Brasil revelou que mais de 80% das crianças e adolescentes brasileiros que utilizam a internet possuem pelo menos um perfil em plataformas como WhatsApp, Instagram, TikTok e YouTube.
Sobre o assunto, a psicóloga afirma que a infância nunca foi tão exposta quanto é nos dias atuais. “As redes sociais potencializaram o fenômeno (adultização), tornando o contato contínuo e sem fronteiras, alimentado por algoritmos que favorecem conteúdos chamativos, muitas vezes sensualizados ou extremos, que são copiados e reproduzidos. A sexualização precoce é uma das formas mais graves de adultização.”
As marcas que essa situação pode deixar podem ser graves. “Leva a criança a enxergar seu valor atrelado à atração física, aumenta a vulnerabilidade a relacionamentos abusivos e provoca distorções de autoimagem e autoestima”, afirma Kamila Vilela.
Desenvolvimento afetado
Segundo a psicóloga, a exposição precoce às redes sociais pode afetar o desenvolvimento infantil de várias maneiras, porque a criança ainda está formando sua identidade, seu senso de valor e sua visão de mundo. “Quando ela é colocada nesse ambiente cedo demais, pode passar a depender da aprovação externa, como curtidas, comentários, número de seguidores para se sentir bem consigo mesma. Isso aumenta a pressão estética, favorece comparações constantes e pode gerar ansiedade e insegurança.”
Por isso, a especialista afirma que os pais e responsáveis precisam estar presentes no mundo digital e presencial, conhecer os conteúdos e interações que fazem parte da vida da criança, estabelecer limites claros acompanhados de explicação e oferecer exemplo de equilíbrio e senso crítico.
“Educação sexual e segurança digital andam lado a lado e são ferramentas essenciais para que a infância seja vivida com proteção, respeito e o tempo que ela merece. Afinal, etapas roubadas deixam marcas para a vida inteira”, finaliza a psicóloga.

Receba, semanalmente e sem custos, os destaques mais importantes do ES diretamente no seu e-mail.