Atualizado em 13/05/2025 – 18:36
Em Vitória, o vereador petista professor Jocelino Júnior propôs um projeto que prevê auxílio-combustível e pagamento de viagens para vereadores, mesmo recebendo um salário de R$ 17 mil mensais. A proposta gerou críticas, mas, em vez de promover um debate saudável, algumas reações tentaram desviar o foco, a sua base eleitoral acusou o dono da página “O Parcial” e seus leitores de racismo por criticar o vereador.
Enquanto isso, professores da rede municipal recebem, em média, R$ 2.755,37 para uma jornada de 28 horas semanais em escolas — fora o tempo de deslocamento de sua casa ao trabalho ou, até mesmo, de uma escola para outra —, e da rede estadual, cerca de R$ 3.596. A disparidade salarial é evidente, e a proposta de mais benefícios para vereadores soa como um desrespeito aos profissionais da educação e aos cidadãos que enfrentam dificuldades financeiras.
A tentativa de silenciar críticas legítimas com acusações infundadas é preocupante. A democracia se fortalece com o debate e a transparência, não com a intimidação de opositores. É essencial que os representantes eleitos estejam abertos a críticas e dispostos a justificar suas propostas com argumentos sólidos, respeitando a inteligência e os direitos dos cidadãos.
A verdade é que criticar o PT virou um campo minado. Não importa o teor, a intenção ou a legitimidade do questionamento — qualquer crítica vira munição para acusações de “alinhamento à direita”, “ataque à democracia” ou, no caso de quem ousa apontar os privilégios da política, até mesmo de racismo. É um silenciamento disfarçado de discurso progressista.
Crítica livre, sim — mas até o limite do PT.
A militância que já teve orgulho de enfrentar o autoritarismo, hoje pratica um controle de narrativa que lembra os piores vícios da política tradicional. Isso porque a narrativa construída nas eleições era a de “nova política e sem privilégios”. Trocaram o debate por blindagem. E não percebem que essa proteção exagerada tem um custo: a perda de conexão com a base popular, com a realidade do povo e com as contradições do próprio projeto.
Porque, quando um vereador petista propõe, em pleno 2025, um auxílio-combustível em uma cidade pequena como Vitória — onde todos os bairros estão a poucos quilômetros de distância — e isso não pode ser questionado, o problema não é a direita. O problema é o partido que se recusa a se olhar no espelho.
A esquerda que não se permite autocrítica é a mesma que entrega terreno para a direita conservadora crescer. Enquanto isso, o povo olha para os dois lados e pensa: “Se todo mundo mente, vou com quem pelo menos fala o que pensa”.
Se antes o PT mobilizava intelectuais, universidades, sindicatos e artistas para pensar o Brasil de forma coletiva, agora parte da sua militância mais barulhenta se contenta em cancelar quem discorda — e onde está a democracia nisso? Trocaram a dialética pela patrulha ideológica. A academia, que poderia ser o lugar de provocação e reconstrução de ideias, é usada para reforçar certezas e justificar erros, não para enfrentá-los.
O paradoxo é cruel: o partido que se dizia porta-voz do povo agora se fecha em castelos digitais e bolhas identitárias. Quem critica por dentro vira inimigo. Quem aponta o absurdo vira traidor. E assim o PT vai se afastando das ruas — e da própria razão de existir. Afinal, quantos professores de sua base em Vitória recebem R$ 17 mil por mês?
Não é a direita que afunda a esquerda. É a esquerda que se recusa a nadar.
No fim das contas, o problema não é o PT. Nem o vereador. Nem a crítica. O problema é o vício político brasileiro de se proteger atrás de discursos nobres para justificar privilégios antigos.
Hoje é o auxílio-combustível. Ontem foi o aumento de cargos comissionados. Amanhã será outro projeto travestido de necessidade institucional. A roupagem muda, mas o roteiro é o mesmo: quando convém, a classe política toda — da esquerda à direita — se une para defender seus próprios interesses. E, quando alguém ousa apontar o óbvio, o foco vira o mensageiro, não a mensagem.
É fácil dizer que a onda conservadora cresceu por causa da ignorância do povo. Difícil é reconhecer que parte dessa onda é alimentada pelo cansaço de quem se decepcionou com quem dizia ser diferente.
Enquanto a crítica continuar sendo tratada como ofensa pessoal, o debate continuará pobre. E a política, cada vez mais distante de quem realmente precisa dela.

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