Atualizado em 23/05/2025 – 14:13
Antes de se tornar um dos fotógrafos mais respeitados do planeta, Sebastião Salgado, que morreu nesta sexta-feira (23) aos 81 anos em Paris, construiu suas primeiras memórias adultas em Vitória. Formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) entre 1964 e 1967, o futuro mestre da fotografia documental estabeleceu vínculos profundos com a capital capixaba que se estenderam por toda a vida.
Juventude em Vitória e formação universitária
Nascido em 1944 em Aimorés, no Vale do Rio Doce, na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, Salgado mudou-se para Vitória ainda adolescente para estudar. Foi na capital capixaba que viveu seus anos de formação universitária, período em que desenvolveu não apenas conhecimentos acadêmicos, mas também sua consciência política e social.
Durante os estudos na Ufes, Salgado atuou no movimento de resistência democrática ao regime militar, demonstrando desde jovem o engajamento social que marcaria sua obra fotográfica décadas depois. A universidade federal, que na época era um centro de efervescência política e cultural, moldou sua visão crítica sobre a sociedade brasileira.
Amor capixaba que durou uma vida
Foi em Vitória que Salgado conheceu e se casou com Lélia Deluiz Wanick, natural do Espírito Santo. O relacionamento, que começou durante os anos universitários, tornou-se uma das grandes parcerias da fotografia mundial. Lélia não foi apenas companheira de vida, mas parceira profissional fundamental na carreira do fotógrafo, cuidando da curadoria de exposições e da gestão de projetos.
“Estabelecendo para toda a vida uma relação afetiva e especial com a cidade e com o Estado”, como registra documentação oficial da Ufes, Salgado manteve vínculos emocionais com o Espírito Santo mesmo após décadas morando na França.
Do curso de Economia à fotografia mundial
Após a formatura na Ufes, Salgado obteve uma bolsa e seguiu com Lélia para São Paulo, onde cursou mestrado em Economia na USP. A base sólida em ciências econômicas obtida na universidade capixaba seria fundamental em sua primeira carreira profissional, antes da descoberta da fotografia.
Perseguido pelo regime militar, em 1969 o casal deixou o país com destino à França, onde Salgado se especializou em Economia com doutoramento na Universidade de Paris. Foi durante uma missão de trabalho na África, já como economista, que descobriu sua verdadeira vocação: a fotografia.
Retorno simbólico ao Vale do Rio Doce
Com a Lei da Anistia em 1979, Sebastião Salgado voltou ao Brasil e, no início da década de 1990, idealizou com Lélia a criação do Instituto Terra. O projeto tinha como objetivo promover o reflorestamento e recuperação ambiental justamente no Vale do Rio Doce, região de suas origens e próxima ao Espírito Santo.
O instituto transformou milhares de hectares de terra degradada em floresta regenerada, plantando mais de 2,7 milhões de árvores nativas. “Assim, como um empreendedor em defesa da vida, o talentoso Sebastião Salgado, mago das imagens, retorna ao Rio Doce, ao Espírito Santo e à Ufes”, como registra o reitor Reinaldo Centoducatte.
Reconhecimento da alma mater
A Ufes concedeu a Sebastião Salgado o título de Doutor Honoris Causa, a mais elevada homenagem da universidade. Com aprovação do Conselho Universitário, a instituição homenageou o ex-aluno “por reconhecer a sua vigorosa produção fotojornalística, e a sua destacada atuação na defesa do meio ambiente”.
Salgado possuía “uma exuberante trajetória profissional e constituía um exemplo de militância pela cidadania”, segundo a universidade que o formou. O reconhecimento oficial consolidou o orgulho institucional por ter contribuído na formação de um dos brasileiros mais respeitados internacionalmente.
Legado que une fotografia e meio ambiente
A trajetória de Salgado exemplifica como a formação universitária sólida pode ser o alicerce para conquistas em áreas aparentemente distintas. Da Economia estudada na Ufes à fotografia documental que o consagrou mundialmente, o fio condutor sempre foi a preocupação social e humanitária.
Seus projetos fotográficos monumentais – “Trabalhadores”, “Êxodos” e “Gênesis” – carregam a mesma sensibilidade social desenvolvida durante os anos de formação em Vitória. O viés humanitário do seu trabalho o levou a colaborar com organizações como Unicef, Médicos sem Fronteiras e Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
O fotógrafo que retratou a condição humana em mais de 120 países começou sua jornada intelectual nas salas de aula da Ufes, nas ruas de Vitória e no amor por uma capixaba. Suas raízes no Espírito Santo permaneceram vivas até o fim, como demonstra o projeto ambiental no vizinho Vale do Rio Doce, região que conecta suas origens mineiras à terra capixaba que o acolheu na juventude.
Com informações de documentos oficiais da Ufes e arquivo institucional.

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