Atualizado em 17/04/2025 – 18:03
É inegável: a vontade de transformar o mundo nunca foi tão palpável, especialmente entre os mais jovens. Redes sociais são tomadas por discursos de mudança, por militâncias dispostas a alterar estruturas que parecem falidas. Mas aqui está o paradoxo: como queremos mudar, se não confiamos em nada nem em ninguém? Como aceitar o risco de se comprometer com algo que já falhou tantas vezes? Esse é o “bug” da geração transformação. Queremos o mundo novo, mas temos medo de nos entregar às lideranças e estruturas que nos prometem a mudança.
Esse cenário de desconfiança não é uma exclusividade de um único espectro ideológico. De um lado, temos os jovens de esquerda clamando por um novo modelo de política, mais inclusivo e mais conectado às realidades periféricas – o que decaiu nos últimos anos com o excesso de discurso acadêmico. Do outro, movimentos de direita, como os que têm ganhado força no Espírito Santo, se aproveitam dessa frustração para se consolidar como uma alternativa de mudança. É um quadro de desconfiança e insatisfação que se espalha para todos os lados, sem distinção de ideologias.
A falta de comprometimento das lideranças políticas com as pautas populares alimenta esse ceticismo, criando um vácuo de confiança em qualquer espectro político.
O Cansaço com as Instituições
A relação entre a juventude e as instituições tem sido marcada pela desconfiança. No Espírito Santo, esse fenômeno é visível não só nas ruas, mas também nas urnas. A cada mudança de cenário, vemos cada vez mais os jovens se posicionando em suas redes que tais representantes estão atendendo aos seus interesses – mesmo sendo políticos onde depositaram seus votos, mas por falta de agir perdem o seu eleitorado. As promessas de mudança em seus discursos nas eleições, há muito tempo, não se concretizam – e não se engane, com as redes sociais ficam mais evidentes onde cada um anda falhando. A falta de ação concreta por parte do poder público, tanto local quanto nacional, alimenta a frustração e a sensação de impotência.
O que realmente está em jogo aqui é a ideia de que a política tradicional, aquela que foi moldada por décadas, não consegue mais gerar respostas eficazes para os desafios do século XXI. Esse tipo de política, com sua linguagem velha e suas promessas vazias, parece ter sido desconectado da realidade das pessoas, especialmente das mais jovens, que já não veem mais sentido em se envolver ou até mesmo votar.
Porém, no lugar desse vazio, vemos um fortalecimento tanto da direita quanto de novos movimentos conservadores. Desde as manifestações de 2018, o Espírito Santo tem sido palco de um crescente ativismo de direita, especialmente entre os jovens, que se sentem representados por um discurso que se coloca contra o que consideram “status quo”. Esses movimentos, como o Movimento Brasil Livre (MBL), encontraram nas redes sociais uma plataforma poderosa para mobilizar e engajar aqueles que, antes, se sentiam desconectados da política institucional – e devemos sim dizer que está sendo executado da melhor forma.
O Custo da Desconfiança
O problema da desconfiança é que ela não é só um freio para a ação, mas também um terreno fértil para a paralisia. Podemos até ter razão em duvidar de tudo e todos — e a nossa razão é clara, a corrupção, a ineficiência, o distanciamento das elites do povo são visíveis — mas, se ficarmos apenas observando, esperando que o cenário se transforme sozinho, estaremos, no fim das contas, reproduzindo o mesmo ciclo de imobilismo que tanto criticamos. E isso nos afasta da verdadeira mudança.
No Espírito Santo, a realidade das periferias, é um exemplo claro de como a falta de ação política impacta diretamente a vida das pessoas. Isso não é apenas um número: são vidas paralisadas, sonhos interrompidos. Mas, ao mesmo tempo, esse quadro de desilusão também tem gerado um campo fértil para o surgimento de novas lideranças, mais autênticas e dispostas a questionar o sistema de dentro.
O Caminho para o Novo
Por mais que o ceticismo e a frustração dominem os debates, a questão central é que o caminho para a mudança nunca será claro ou livre de erros. Os novos movimentos, as novas formas de militância, muitas vezes começam com falhas. E é esse o ponto: não podemos deixar que o medo de errar nos paralise. A política não será mais transformadora se ficarmos à margem, assistindo de longe o processo. O protagonismo está em correr riscos — e se precisar errar, que seja com coragem e disposição para aprender.
No Espírito Santo, movimentos locais têm se destacado pela autenticidade e pela capacidade de conectar a política com a realidade das pessoas. Organizações como a Jovens pela Democracia e o Coletivo de Juventude Capixaba têm se mostrado potentes ao articular pautas locais com um discurso mais acessível e menos burocrático. Eles não esperam que as grandes lideranças ou as velhas estruturas venham até eles, mas vão em busca da mudança, mesmo que em pequenos passos.
Esses movimentos não estão sozinhos, claro. A direita também se aproveitou desse vácuo de confiança para se consolidar, apresentando um discurso mais direto e sem as amarras das velhas instituições dando voz nos movimentos Jovens de Direita ES e o Movimento Direita Raiz. Esse fenômeno não é apenas local, mas nacional, e a tendência é que ele cresça ainda mais se a esquerda continuar a ignorar as necessidades de uma juventude desiludida.
E então, geração transformação, qual é o próximo passo?
A desconfiança generalizada tem sua razão de ser — as promessas não cumpridas, os escândalos repetidos, o distanciamento das lideranças. Mas se esse ceticismo vira paralisia, o risco é que o vácuo continue sendo ocupado por projetos que falam muito e entregam pouco, de todos os lados.
Enquanto uma parte da juventude rejeita a velha política, outra já está ocupando espaços — seja nos coletivos progressistas, seja nos movimentos conservadores em ascensão. O problema é que, sem compromisso real com construção, qualquer lado corre o risco de virar só performance. Porque fazer barulho no story é fácil. Difícil é sustentar pauta quando o algoritmo muda, quando a narrativa perde fôlego ou quando o engajamento não vem.
Talvez o verdadeiro bug da nossa geração não seja a falta de fé nos outros — mas a crença de que transformação vem sem esforço, sem tempo, sem entrega. E isso, nem o melhor viral conserta.

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