Atualizado em 11/04/2025 – 11:12
O município de Alfredo Chaves, no Espírito Santo, se tornou o local escolhido para ser realizada uma pesquisa voltada ao controle do mosquito Culicoides, popularmente conhecido como maruim. A ação, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Ministério da Saúde, busca identificar medidas mais eficazes para reduzir a presença do inseto na região, que é o transmissor da Febre do Oropouche.
Até o momento, o Espírito Santo registrou 11.332 casos confirmados da doença, sendo que em janeiro de 2025, no auge das transmissões, o estado concentrava 90% dos casos de todo o Brasil. No dia 10 de dezembro de 2024 foi confirmada a primeira morte por Febre do Oropouche em terras capixabas e dois óbitos ainda estão em investigação.
Alfredo Chaves se tornou o munícipio que mais registrou casos da Febre do Oropouche no estado, com 1.289 confirmações até está quinta-feira (10). Por esse motivo a cidade foi a escolhida como campo de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Ministério da Saúde para o estudo da doença e do inseto. O estudo tem parceria com a prefeitura da cidade e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Atualmente, 11 pesquisadores das instituições envolvidas estão realizando coletas de amostras e aplicando produtos para teste nas comunidades mais afetadas. Para dar suporte ao estudo, a Secretaria de Saúde do município disponibilizou uma sala, adaptada pela equipe e transformada em laboratório temporário.

O estudo
De acordo com o pesquisador José Bento Pereira Lima, do Laboratório de Biologia, Controle e Vigilância de Insetos Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o trabalho foi iniciado com uma visita técnica para reconhecimento da área e levantamento de informações sobre a situação epidemiológica local.
Na etapa seguinte, foram feitas coletas de maruins em quatro pontos diferentes da cidade. Com base nesse material, foi realizada uma primeira série de bioensaios utilizando garrafas e papéis impregnados com inseticidas recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os produtos testados são os mesmos usados atualmente em programas de controle de vetores.
O material coletado foi encaminhado ao laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro, onde estão sendo avaliados quais compostos apresentam maior eficácia contra os maruins. A análise dos resultados está em andamento.
Segundo o pesquisador, com base nesses dados será possível planejar os próximos passos, que incluem testes de aplicação em campo das formulações analisadas em laboratório. Durante essa fase, também serão feitas coletas de insetos antes, durante e após as aplicações, a fim de mensurar o impacto de cada produto.
Outro objetivo do estudo é identificar os principais criadouros do maruim em Alfredo Chaves. A partir dessas informações, os pesquisadores pretendem propor medidas para eliminar ou reduzir a densidade do vetor na região.
A previsão é que, em até quatro meses, os principais resultados estejam disponíveis. Os dados servirão de base para orientar estratégias de controle mais direcionadas e eficazes.
A doença
A Febre do Oropouche é uma arbovirose causada pelo vírus Oropouche (OROV) e transmitida principalmente pela picada do mosquito maruim (Culicoides paraensis). É comum em regiões tropicais da América Latina, especialmente na Amazônia brasileira, mas tem avançado para outras áreas.
Os sintomas incluem febre alta, dor de cabeça, dores musculares e articulares, além de mal-estar geral. A doença se assemelha a outras infecções virais, como a dengue, mas raramente causa complicações graves. Ainda assim, pode gerar surtos com alta incidência em áreas urbanas e rurais.
Não existe vacina ou tratamento antiviral específico para a febre do Oropouche, por isso o controle dos vetores e o uso de medidas de proteção contra picadas são fundamentais para a prevenção da doença.
Como reconhecer o mosquito
Entre as principais características do inseto está o seu tamanho diminuto. Diferentemente do Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya, o maruim é considerado um inseto muito pequeno, medindo cerca de 1,5 milímetros, podendo atingir 3 milímetros, sendo visto, muitas vezes, apenas como um pontinho na pele.
O horário em que ele pica também se diferencia do Aedes. O maruim tem preferência pelo período do início da manhã e no final de tarde, sendo esse último o preferido. Se a quantidade de maruim for muito alta na localidade, o inseto pode atacar ao longo de todo o dia e a sua presença está associada também ao incômodo à população, devido à picada dolorosa e persistência em se alimentar.
A referência técnica em Zoonoses e Doenças Vetoriais da Secretaria da Saúde, a bióloga Karina Bertazo, explicou que apenas as fêmeas se alimentam de sangue e contou qual o local preferido do inseto para colocação dos ovos.
“O maruim necessita, de forma geral, de três coisas, que são: a umidade, matéria orgânica e sombra. Dessa forma, vários tipos de plantações, como a de banana, café, cacau, margens de rios, solos úmidos, matéria orgânica e até lixo são locais propícios”, disse.

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