Atualizado em 10/12/2024 – 13:23
No efervescente cenário artístico dos anos 1950, quando o mundo experimentava revoluções culturais e novas linguagens criativas, o Brasil despontou com uma resposta singular à rigidez da arte concreta: o Neoconcretismo. Esse movimento não apenas redefiniu as possibilidades da expressão artística, mas também convidou o público a se tornar parte ativa da obra, transformando-a em uma experiência subjetiva e sensorial.
O marco fundador do Neoconcretismo foi o Manifesto Neoconcreto, publicado em 1959 no Jornal do Brasil e assinado por artistas visionários como Ferreira Gullar, Lygia Clark, Lygia Pape e Amilcar de Castro. A proposta do manifesto era clara: distanciar-se da rigidez quase científica do Concretismo e abrir espaço para a emoção, a subjetividade e a interação humana. “A arte é um organismo vivo”, declaravam os neoconcretistas, propondo uma nova forma de relação entre obra e espectador.
Entre os expoentes desse movimento, Lygia Clark se destacou por transformar esculturas em experiências táteis e participativas. Seus Bichos, estruturas geométricas articuladas, só revelavam seu verdadeiro sentido quando manipuladas pelo público, evidenciando o caráter dinâmico da arte neoconcreta. Essa dimensão interativa foi uma ruptura com o entendimento tradicional da arte como algo apenas contemplativo.
Enquanto isso, Lygia Pape expandiu os horizontes do movimento ao unir arte e cotidiano. Suas embalagens para os biscoitos Piraquê, por exemplo, aplicaram conceitos neoconcretos ao design gráfico, criando uma fusão inovadora entre estética e funcionalidade. Essa aproximação entre arte e utilidade ecoava ideais da Bauhaus, embora o Neoconcretismo fosse mais focado na experiência sensorial do que na funcionalidade industrial.
Ferreira Gullar, teórico central do movimento, argumentava que a arte concreta, ao buscar uma perfeição mecânica, ignorava a complexidade das emoções humanas. Para ele, a arte deveria ser uma experiência transformadora, como bem demonstraram os Parangolés de Hélio Oiticica. Essas capas performáticas convidavam o espectador a vestir a obra, criando uma interação única entre corpo, espaço e movimento.
A poesia também encontrou abrigo no Neoconcretismo, especialmente nas mãos de artistas que exploraram a relação entre palavra, forma e significado. Por meio de cortes, dobras e verbos no imperativo, essas obras desafiaram convenções literárias e convidaram o leitor-espectador a reinterpretar a linguagem de maneira experimental.
Em 1959, a I Exposição Neoconcreta, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, consolidou o movimento e atraiu os olhares do mundo para a criatividade brasileira. As obras apresentadas reafirmaram a ideia de que a arte podia ser mais do que um objeto estático: ela era um convite à experiência, à reflexão e à transformação.
Hoje, o legado do Neoconcretismo é reconhecido globalmente como um marco na arte contemporânea. O movimento mostrou que a arte pode ultrapassar barreiras, sendo ao mesmo tempo universal e profundamente humana. A partir da simplicidade geométrica e da complexidade das emoções, os neoconcretistas nos ensinaram que a criatividade é um campo infinito, onde a imaginação e a experiência encontram sua máxima expressão.
Assim, o Neoconcretismo permanece como um exemplo vibrante do potencial transformador da arte, provando que, nas mãos certas, ela não é apenas uma representação do mundo, mas uma forma de reinventá-lo.
Referências: https://portal.lygiaclark.org.br/acervo/67348/manifesto-neoconcreto
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