Atualizado em 09/04/2025 – 11:22
Tem uma coisa que a gente precisa admitir (e com urgência): a direita soube jogar o jogo. Soube ocupar as redes, narrar sua própria história, transformar meme em mobilização e opinião rasa em engajamento de massa. Enquanto isso, a esquerda — que tem um lastro histórico de luta social e mobilização de base — ainda tropeça em como traduzir suas pautas para o mundo digital e pro povo na rua.
E não estou falando isso como quem desistiu ou critica por esporte. Estou falando como quem vive o bastidor político, e percebe os estudos que ocorrem nas estratégias montadas independentemente de viés político pessoal e entende que não adianta só ter razão — tem que saber contar essa razão de um jeito que ecoe. De um jeito que conecte.
O que a direita entendeu — e usou com maestria — é que política também se faz com emoção, simplicidade e símbolos. Desde 2018, vimos movimentos conservadores tomando corpo no Brasil inteiro: comitês locais, grupos de oração com viés político -o que antes não se via-, núcleos de jovens em universidades, lives com pauta definida, influenciadores com alcance regional e nacional. No Espírito Santo, isso não foi diferente: a articulação em torno de grupos religiosos, movimentos denominados “pró-família” e redes de empresários criou uma base de sustentação política e digital que opera com disciplina e foco.
E mais: eles ocupam desde os palanques até os grupos de WhatsApp da sua tia. Enquanto isso, parte da esquerda insiste em falar difícil, em panfletar academicamente, como se política fosse concurso público — quando, na real, é disputa de afeto, identidade e pertencimento.
A esquerda precisa aprender algumas lições. Como essas aqui:
Falar com o povo, não só entre a própria comunidade.
Não adianta explicar projeto político só para quem já concorda. O desafio é traduzir o discurso sem perder o conteúdo — e, principalmente, fazer sentido para quem está fora da bolha.
Resgatar o emocional.
A direita explora emoções a todo momento mesmo que seja o medo, a raiva, o orgulho nacional. E a esquerda? Pode (e deve) explorar esperança, pertencimento, justiça. Só que com firmeza. Com narrativa. Com impacto.
Memes, humor, leveza.
Política não é só nota de repúdio nem thread de 50 tuítes. O algoritmo gosta de meme, o povo compartilha o que faz rir — ou o que emociona. Informação também viraliza se for bem embalada. Visualize isso na sua própria família, o que chama mais atenção no famoso almoço de domingo? Certamente não será um vídeo acadêmico com palavras difíceis que chamará atenção de seus avós e até mesmo dos seus primos ou sobrinhos mais novos.
Presença capilar.
Movimento político que não alcança o grupo de rua, o diretório estudantil, o culto de domingo ou o grupo de bairro no zap… perde feio. É preciso presença física e digital ao mesmo tempo. Uma estratégia integrada, descentralizada e constante.
E sobre os símbolos nacionais?
Está mais do que na hora da esquerda novamente resgatar as cores brasileiras. A bandeira do Brasil, o verde e amarelo, o amor pelo país — tudo isso é de toda população. A luta por justiça social também é um ato de patriotismo. E deixar isso claro é essencial para virar o jogo simbólico.
Essa não é uma crítica desanimada. É um chamado à estratégia. Dá para fazer diferente, dá para fazer melhor. Mas, para isso, tem que sair da zona de conforto, escutar mais, comunicar com inteligência e ousadia. Porque, no fim, política não é só sobre estar certo. É sobre conquistar. É sobre sentido. É sobre disputar futuro.

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