Atualizado em 30/04/2025 – 15:52
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Em uma celebração que mistura fé, tradição e muita música, o tradicional Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D’Água, em Cariacica, na Grande Vitória, reuniu mais de 17 mil pessoas em uma das celebrações marcantes da cultura capixaba. Realizado na última segunda-feira (28), o evento contou com cortejos, shows e um grande encontro de bandas de Congo de diversas regiões do Espírito Santo, reafirmando a força e a identidade dessa manifestação cultural única do estado.
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A celebração teve início com a concentração das bandas de Congo na Bica do Luiz, em Roda D’Água, de onde partiram em cortejo em homenagem a Nossa Senhora da Penha até o Campo do América. No local, foi realizada uma missa campal conduzida pela Paróquia Bom Jesus de Novo Horizonte e pela comunidade Sagrada Família. Em seguida, o público acompanhou o show da banda capixaba Casaca e o aguardado encontro de todas as bandas de congo, coroando a festa com muita música, tradição e identidade cultural.
O Carnaval de Congo de Máscaras acontece no mesmo dia que é dedicado à Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo. E isso não é por acaso. A manifestação cultural surgiu justamente com uma uma forma do povo negro poder participar da tradicional Festa da Penha.
“Esse carnaval surgiu há mais de 100 anos, com os nossos antepassados, que não conseguiam chegar até o Convento da Penha devido à dificuldade de acesso. Por isso, eles passaram a realizar cantorias e celebrações em seus próprios locais. Com o tempo, essa tradição foi se fortalecendo como uma brincadeira popular, e daí nasceu a figura do mascarado — o João Bananeira — que hoje é símbolo e expressão legítima da nossa cultura, reconhecido inclusive por lei”, explicou o presidente da Associação de Congo de Cariacica, Mestre Jeffinho.
Ao todo, se reuniram na festa as bandas de congo tradicionais de Cariacica: Banda de Congo São Benedito de Piranema, Banda de Congo Unidos de Boa Vista, Banda de Congo São Benedito de Boa Vista, Banda de Congo São Sebastião de Taquaruçu, Banda de Congo Santa Izabel, Banda de Congo Mestre Tagibe.
Mestre Darinha, da banda de congo Unidos de Boa Vista, é a única mestre mulher entre todas as bandas. Para ela é uma tradição familiar que começou desde os seus avós e chegou até ela.
“Antigamente, os batedores de Congo e os mascarados faziam essa comemoração em casa. Meu tio-padrinho era mestre e ele me ensinou a tocar, e hoje congueira eu sou, é uma tradição familiar. Eu tenho sangue na veia de Congo, eu amo o Congo.”

João Bananeira
João Bananeira é o personagem central do Congo de Máscaras. Com mais de 150 anos de história, a figura coberta por folhas de bananeira e de máscara do folclore capixaba sempre fez parte da tradição de Roda D’Água.
O artista e dançarino Alfredo Evangelista, mais conhecido como Alfredo Godô, é quem dá vida ao João Bananeira. Ele se diz honrado de poder participar de uma festa cultural tão rica e conta a lenda que deu origem ao personagem.
“Há 13 anos eu dou vida ao João Bananeira, que é do tempo ainda da escravidão. Um dos escravizados, muito espertalhão e curioso, quis adentrar as festas dos brancos, onde ele não podia. Aí ele falou: ‘se todo mundo está fantasiado, se eu também fizer uma fantasia, se eu tampar o meu rosto, meus braços, o meu corpo, ninguém vai saber quem sou eu’. Ele fez dois buraquinhos num pano e tampou o rosto. Já as pernas, ele cobriu com palhas de bananeira, amarradas com cipó, formando uma saia que arrastava no chão. Quando entrou na festa, começaram a gritar: ‘ô, Bananeira!’ — e o nome pegou: João Bananeira”, contou Godô.
A região de Roda D’Água, no município de Cariacica, é território remanescente de quilombo, onde negros fugidos da Revolta de Queimados (1849) iniciaram a tradição do Congo com seus cantos e tambores.
Segundo os relatos históricos, contados pelos mais antigos da comunidade, durante a procissão, escravos usavam máscaras para ocultar seus rostos e cobriam os braços com meias para participar do cortejo sem serem reconhecidos. Com o passar do tempo, essa prática se transformou e deu origem ao personagem emblemático.
Hoje, a lei de incentivo financeiro à cultura de Cariacica leva o nome de João Bananeira, mostrando a relevância do personagem para a história e cultura do Município. Também existe em Cariacica o “João Bananeira na Escola”, projeto fruto da parceria entre as secretarias de Educação (Seme) e de Cultura e Turismo de Cariacica (Semcult), criado em 2013 com o objetivo de preservar e ensinar às novas gerações a história desse personagem e das tradições do congo local.

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