Atualizado em 10/07/2025 – 11:52
A já célebre frase de Ulysses Guimarães ainda ecoa, ainda é fundamental. O Brasil atravessa o retorno do recalque político, evidenciado na ascensão, fortalecimento e permanência da extrema-direita no debate e nas ações políticas do país. A Constituição é um poderoso bastião democrático nesse contexto voraz. Para entender sua formação e os ataques reiterados que sofre desde sua promulgação, é preciso tratar da Assembleia Nacional Constituinte e das condições materiais em que foi forjada, entre 1987 e 1988. É do professor Adriano Pilatti (PUC-Rio) um dos mais profícuos estudos a respeito da ANC. Em sua obra A Constituinte 1987-1988: progressistas, conservadores, ordem econômica e regras do jogo, o intelectual carioca, observador privilegiado daquele formidável tempo, aponta as relações e correlações de forças no interior da Constituinte, que forjou nosso fragilíssimo escudo contra o atraso.
Antes de avançar, é fundamental frisar que a Constituição não é perfeita, tampouco basta para evitar nossos muitos problemas estruturais, mas, sem ela, entendo que o país não teria minimamente serviços básicos ao povo, como era nos anos de chumbo.
Foi no contexto de abertura política que o país lutou por eleições diretas (1984) — e perdeu. Lutou por eleger seu presidente e recebeu o Sarney, vindo diretamente do partido da ditadura. Sarney manobrou, influenciou a ANC, mas não conseguiu impor todas as vontades dos conservadores, que vinham a ser os grandes latifundiários, os associados da ditadura civil-militar, setores da imprensa e um punhado de empresários fechados com o atraso. Já na sociedade civil, organizada ou não, a participação popular foi efervescente, pujante. Conselhos da comunidade, votações, sugestões, palavra franqueada na Assembleia Nacional Constituinte, somados às eleições municipais — que apontaram o desejo da população por políticas progressistas — influenciaram sobremaneira os constituintes.
A ANC “foi palco de grandes conflitos de interesse”, onde se destacam dois personagens: Ulysses Guimarães e Mário Covas. O famigerado Centrão já estava presente e militava pelos interesses que até hoje defende: os dos muito ricos e os próprios, sempre contra o povo. Mário Covas, que viria a ser tucano de alta plumagem, foi fundamental às vitórias conseguidas pelos progressistas, notadamente por sua capacidade de articulação, convencimento, inteligência e cumprimento de acordos. Os conservadores, todavia, conseguiram vitórias fundamentais à manutenção do Estado brasileiro a serviço dos seus interesses e “deixaram intacta a estrutura arcaica de poder, por meio do qual as elites conservadoras vão desfazendo as conquistas progressistas por via das sucessivas emendas constitucionais” (José Afonso da Silva, no prefácio à obra do prof. Pilatti).
Ao cabo da Constituinte, fica o então inacreditável resultado: uma minoria de constituintes progressistas conseguiu gerar uma Constituição “razoavelmente progressista contra uma maioria conservadora”. É essa Constituição que prevê, em seu art. 1º, que a República Federativa do Brasil tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, além do pluralismo político. É mesmo uma conquista e tanto ter, em seu art. 1º, mandamentos tão importantes ao país.
No primeiro parágrafo da missiva enviada por Trump a Lula, fica evidenciado o interesse do laranja: defender Jair Bolsonaro, bulinar os Poderes da República, atacar a soberania do país, da Justiça brasileira. O homem que se pinta de laranja está fazendo política com o destino do Brasil, para privilegiar seus lacaios locais e as big techs, além de temer profundamente os BRICS. Todavia, toda essa manifestação tem uma origem primária: defender Jair Bolsonaro. Portanto, a família Bolsonaro é responsável direta, mais uma vez, por uma possível imensa tragédia no país. O mesmo Jair que negou a pandemia de COVID, o mesmo Jair que é associado a milicianos, o mesmo Jair que tentou dar golpe de Estado e será punido por isso. Jair e a extrema-direita são inimigos do Brasil.
Favas eram contadas, em nosso país, a respeito dos EUA serem o grande paradigma democrático do globo terrestre. A tremenda balela foi fulminada com o retorno de Trump, mesmo depois da fracassada tentativa de golpe de Estado. Agora, o laranja alucinado deteriora as instituições estadunidenses e espalha pelo mundo sua egocêntrica visão de mundo, seu agir mafioso, covarde e abusador.
Supremacista branco, Donald Trump se posiciona como dono do mundo. Uma vez que não foi freado pela fantasiosa land of freedom, seu retorno ao trono daquela fajuta democracia tem fulminado estruturas globais e, sobretudo, vai levando em satisfatória velocidade o império estadunidense ao ocaso — não sem antes estrebuchar bastante.
Os últimos atos do moribundo ainda causarão muitas tragédias. O filho do ex-presidente, ora réu por golpismo, tenta a todo custo fortalecer o império, ao custo da soberania brasileira, da deterioração de exportações, dos empregos, da renda.
O governador do Estado mais prejudicado com a taxação de 50% das exportações brasileiras saiu em defesa da taxação. Parlamentares da extrema-direita aprovaram moção de aplausos ao laranja — inclusive o capixaba Evair de Melo, do PP —, ora autoproclamados progressistas: um acinte. Há, contudo, algo de bom aí. Afinal, a extrema-direita brasileira termina de se revelar ao país como nunca: são corruptos, golpistas e vendilhões da pátria; tentam, a todo e qualquer custo, salvar as próprias peles brancas — custe o que custar.
O Estado do Espírito Santo será brutalmente atingido pela atroz taxa de 50%, notadamente os setores de rochas ornamentais, agricultura, portuário e o de commodities em geral. Megaempresas e empresários, comumente aliados ideologicamente aos lacaios do trumpismo, terão que rever seus apoios, posições e visão de mundo, sob risco de terem seus patrimônios empresariais e pessoais lesados profundamente. Setores organizados da agricultura e da indústria já se posicionaram e mobilizaram ainda seus aparelhos ideológicos, no sentido de tentar preservar seus fluxos de caixa.
Nesse caminho, lesados os empresários, inflado artificialmente o dólar, teremos trágicas consequências sobre a população mais carente, os trabalhadores assalariados, os trabalhadores rurais, os trabalhadores do setor de rochas ornamentais — enfim, o povo que forma e dá sentido a este país.
Em defesa de nossa soberania e do povo brasileiro, o país precisa olhar para dentro, entender como e o que nos constitui e forjar um programa de desenvolvimento nacional, fortalecimento do mercado interno e de ligações com outros mercados externos, como o brioso BRICS. Ainda, é indispensável termos em mente que é o nosso povo que sustenta, dá cor, som, cheiro e coração ao país. Somos construídos sob o signo da dor, mas nos levantamos e nos constituímos em forma de Kizomba. Viva o povo brasileiro!

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