Atualizado em 23/02/2025 – 14:49
Mesmo com a primeira metade do desfile marcada por muita chuva, a Unidos da Piedade deu uma festa na avenida. Fantasias grandiosas, muita ancestralidade e cores que ilustram a infância foram os grandes diferenciais da escola, que comemora 70 anos com um enredo celebrando a vida das crianças. A escola enfrentou alguns problemas de Evolução, mas terminou dentro do tempo limite.
Com o enredo “Ibejis”, a Mais Querida trouxe para a avenida São Cosme e Damião e o orixá Ibeji, divindades gêmeas do candomblé sincretizadas aos santos gêmeos católicos. Os Ibejis representam as crianças e a pureza espiritual, e foi isso que a Piedade destacou durante todo o desfile.
A agremiação levou para a avenida 3 carros alegóricos, 2 tripés, um elemento cenográfico e 1.600 componentes em 20 alas.
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Já na Comissão de Frente, duas crianças abriram caminho para um grupo de mulheres com vestimentas religiosas, dando uma prévia de tudo o que a escola mostraria durante a apresentação.
O primeiro setor levava cores fortes e os tradicionais verde, vermelho e branco da escola. Porém, a partir do segundo setor, a escola inovou ao apostar em cores lúdicas – que iam de tons pastéis delicados, à tons muito coloridos e neons – para evocar a infância, criando uma combinação pouco vista em desfiles de carnaval.
As primeira e terceira alegorias contavam com elementos infantis como pirulitos e brinquedos – e até o dragão, símbolo da escola, foi retratado como um bicho de pelúcia.
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A ancestralidade e a influência das religiões de matrizes africanas permearam todo o desfile. Um dos destaques foi a rainha de bateria, Nathy Messias, que usava uma fantasia representativa da Rainha dos Mares, a divindade Iemanjá.
“Eu venho representando Iemanjá, mãe de todos os orixás, a mãe dos Ibejis. A bateria veio de Itans, que são esculturas que Orumilá criou para eternizar os Ibejis”, explica.
Nathy comenta que o tema garantiu a energia positiva que a escola precisava trazer para a avenida: “A piedade apostou nesse enredo porque nós precisamos de boas energias e crianças trazem uma energia boa, um sentimento bom. É alegria, é felicidade, é espontaneidade, e a Piedade precisava disso”, comentou a Rainha de Bateria.
Um outro aspecto do desfile que chamou a atenção foi a segunda alegoria, que destoava do restante do desfile: liderados por dois Musos vestidos de preto e utilizando mascaras que representavam ossos, o carro trazia cores escuras e elementos sombrios.
Ray Telles, Muso que acompanhava o carro, explica o que a alegoria representava: “A minha fantasia representa as vítimas de Ikú, que nas religiões de matriz africana é a morte. O Itã conta que os Ibejis [tema da escola] enganaram a morte. Os gêmeos enganaram a morte enquanto se revezavam tocando músicas, até que a morte se cansou”, contou Ray.
Uma chuva forte caiu por toda a primeira metade do desfile, mas não diminuiu a animação de quem passava pela avenida. A escola, desde o início do desfile, enfrentou alguns problemas de Evolução, com as alas por vezes ficando muito próximas e tendo que parar, e por vezes com alguns buracos entre elas. Apesar disso, a escola terminou o desfile dentro do tempo limite, em 61 minutos.
A Unidos da Piedade é conhecida pelo forte envolvimento da comunidade no desfile e na preparação para o mesmo. Neste ano, muitas fantasias foram customizadas de forma bem acessível, para que mais moradores da região pudessem participar.
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O mito dos Ibejis
Os Ibejis são filhos de Iansã e Xangô. Mas ao dar à luz, ela os repudiou, os abandonando nas águas de um rio. Oxum estava a passear por perto e escutou o choro das crianças, sem hesitar correu na direção do som e encontrou os dois pequeninos recém-nascidos.
Diz a lenda que ambos irmãos sorriram para Oxum quando a viram, o que fez o coração da Orixá derreter de amor pelos pequenos. Oxum então passou a ser a mãe dos Ibejis e os deu os nomes: Taiwo e Kehinde. Ibejis é o único Orixá que possui dupla representação e eles simbolizam o nascimento de todas as coisas.
A História da vida humana dos Ibejis – Antes de serem Orixás
Os gêmeos eram dois príncipes capazes de trazer sorte a todos que os consultassem. Com muita alegria e sabedoria o jeito infantil de enxergar as situações os possibilitavam a encontrar as melhores respostas para qualquer tipo de problema questionado. Em troca, eles pediam como pagamento doces.
Como toda criança levada, eles adoravam fazer traquinagens e um dia brincando próximo a uma cachoeira um deles caiu, na queda das águas e morreu afogado.
O irmão sobrevivente não conseguia mais encontrar a felicidade em viver e em meio aos seus prantos de saudades implorava a Orunmila que o levasse para perto de seu irmão. Tocado pelo sofrimento do pequeno, Orunmila resolveu atender ao seu pedido, e o desencarnou. Para confortar a todos que os amavam ele deixou em seu lugar duas estátuas de barro representando os príncipes gêmeos.
Por isso é muito comum oferendas aos Ibejis no pé da estátua de gêmeos.
Confira mais fotos do desfile:
Confira o samba-enredo:
Solta a criança que existe em você
No orum e no ayê cantar de felicidade
Essa criança que existe em você
Novamente vem dizer acredita piedade!
No silêncio do olhar
A razão pra admirar
São dois seres pequeninos
“Ibeji”, pingos de gente
Travessura inocente
Sob as bênçãos do divino
Na luz do orixá
Encanto e amor
Eparrey oyá, cabecílê xangô
Ora yê yê ô, mamãe oxum foi quem criou
Leva fé, o que ele faz ninguém desfaz
Chegou na paz idou pra confirmar
Salve! a sagrada união, eternidade…
Dualidade da raiz yorubá.
Água pra quem tem sede
Comida pra alimentar
Tambores da boa sorte
Na “fonte grande” à jorrar
Pra vida enganar a morte
Nas voltas que o mundo dá
A grandeza dos pequenos tá guardada na lembrança
No axé da “ibeijada” a esperança
Ciranda ê, é tempo de cirandar
27 de setembro é dia de festejar
Tem alegria pra adoçar o coração
Eu sou devoto, salve cosme e damião!
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